segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mudança de ares

    
     Domingo, mesmo sendo parte do final de semana, parece estar repleto de rotina. As chamadas "tradições de domingo": macarronada para uns, ir à missa para outros, futebolzinho com os amigos, assistir fórmula 1 e, no meu caso, longão da semana. Esse é o dia reservado para fazer o maior treino de corrida da semana.

     Mas nesse final de semana íamos para São Paulo visitar um casal de amigos, conhecer a filinha deles que acabara de nascer. Com o treino de sábado feito pela manhã, restava-me apenas transferir minha corrida para outra cidade, procurar um evento que talvez se encaixasse ao treino daquela manhã. A parte de evento não seria problema. Em São Paulo, todo domingo é dia de corrida. Seja na USP, no Pacaembu ou no Ibirapuera. É certo encontrar uma prova acontecendo na cidade. O problema é que tinha um treino de 1:45 horas. Onde fazer?

     Uma pesquisa rápida pela internet e descobri que, exatamente nesse final de semana, ocorreria o Meia Maratona das Pontes. Melhor ainda: com largada perto de ondo ficaria. Perfeito! Estava resolvido meu problema. Era apenas chegar o domingo e correr.

     Só que o dia virou. A tarde de sábado ficou cinza, carregada, fria, chuvosa. Pronto, mais um desafio para o domingo: acordar cedo e encarar frio e chuva para treinar ou continuar dormindo quentinho? Esse é o tipo de pergunta que não se pode deixar ganhar forma. Se está marcado, você vai lá e faz. Nada de criar situações problemas para desistir. Não seria nem justo responder a tal pergunta. Quem seria o insano que deixaria o conforto de uma cama macia e aquecida, em uma fria manhã de domingo, para correr na chuva e no frio apenas por prazer? Não conheço.

     Banho quente, café quente, três blusas para cortar um pouco o vento e partiu! Largada às 7 horas, Ponte Transamérica, percurso de 21 quilômetros entre esta e a Ponte Estaiada, bem às margens do Rio Pinheiros. Para quem não o conhece, pareceria um cenário perfeito.

     Partimos com quase 10 minutos de atraso. Com poucos adeptos, não houve tumulto, sem problemas com a largada ou com encaixe e manutenção de ritmo. O dia oscilava entre o cinza chuvoso e um céu azul de outuno. Nada definido para o dia. A blusa de frio já estava na cintura. Era deixar que a corrida cuidasse do aquecimento corporal.

     O proposta era correr a 5'25" por quilômetro, ritmo tranquilo. Difícil seria permanecer assim sem ceder ao desejo de perseguir algumas nucas à frente. Fiz um acordo comigo mesmo: fazer os primeiros 10 km no pace correto e depois tentar forçar um pouquinho, só para animar a brincadeira! Justo.

     Primeiros 10 km chegaram. O cronômetro marcava 50 minutos altos. Um pouquinho abaixo, mas ainda sim aceitável. Beleza, hora de parir para um split positivo. Sabia que faltavam 11 quilômetros ainda, que tenho uma Maratona no domingo seguinte e, por isso, não correria muito forte, somente o necessário para fazer um bom treino.

     Passando pelo quilômetro 12, via-se a placa de 14 km no sentido oposto. Ótimo, estávamos perto do retorno. Seria uma reta até a Estação Santo Amaro. E nesse momento o vi. Ele que por muito tempo acompanhei pelas revistas, no seu blog, passando no sentido contrário. Sérgio Xavier, editor da Runners e da Placar. Pronto, minha primeira nuca alvo. Apertei o passo.

     Já na grande reta, percebi que estava cada vez mais perto do Sérgio, mas íamos em bloco. Estávamos em um pequeno pelotão, todos num mesmo pace. Apertei um pouquinho, cruzei com ele, o cumprimentei e fui. Hora de achar mais alvos, nova motivação.

     O dia, ainda incerto, brincava com as cores. Em meio ao tom de cinza, o Sol rompia algumas nuves e trazi consigo um céu mais limpo. Minutos depois era tomado novamente. Em meio a essas variações, os quilômetros iam aumentando nas placas de sinalização, a chegada estava próxima, era manter o ritmo e chegar. Só que comecei a perceber uma certa náusea. Para um mais otimista, seria o esforço físico naquele momento, mas sabia que não estava tão forte assim. Percebi que o grande problema estava ao meu lado. Não, nenhum corredor em más condições passava por no momento. Na verdade o causador já me acompanha há mais de uma hora. O Rio Pinheiros, e seu cheiro de esgoto, já tinha entrado em minha mente, tomado minhas vias aéreas e estava começando a surtir efeito. Não tinha muito a fazer. Era segurar a barra e terminar.
  
     Mas antes a passagem pelo quilômetro 20. Segunda parcial: 47 minutos. Três minutos abaixo, sem muitos problemas, parecia um bom resultado. Agora era só fazer o último quilômetro, cruzar a linha de chegada e voltar para o conforto do lar.

     Não tão cedo. Antes do fim a cidade de São Paulo justificaria porque é conhecida como Terra da Garoa. Aceitou o cinza como pano de fundo e, como que se passássemos embaixo de um umidificador, fez uma garoa fina e refrescante conduzir-nos pelos últimos mil metros. Estava acabado. Uma hora, quarenta e um minutos e cinquenta e dois segundos. Ainda devia 4 minutos para a planilha. Fica para o Santo. Hora de pegar o trem, voltar pra casa, tomar um banho quente, assistir Fórmula 1, comer uma macarronada...


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