terça-feira, 8 de julho de 2014

Sucesso a longo prazo

Sucesso a longo prazo.

                Aprendi muito cedo a não ser levado por emoções. Não que seja a melhor forma de se viver, mas às vezes pode ajudar. Porém tinha no futebol uma válvula de escape. Era dentro daqueles noventa minutos que podia extravasar, bater no peito, xingar alguém sem criar uma confusão generalizada, enfim, apenas reagir aos lances da partida. 
                Isso mudou na faculdade (a última, de Educação Física). Quando fui trabalhar com futebol e tive a oportunidade de fazer o scout de toda a Copa de 2010. Agora o futebol era números, o “uh” pelo gol perdido era tido como um dado negativo no banco de dados do jogador ineficiente. Simples assim. Frio não? Concordo, mas isso permitia que conseguíssemos prever algumas situações, resultados e não simplesmente engolir o que alguns comentaristas dizem nas transmissões. É claro que o fator surpresa sempre estará presente no futebol, mas ver os números ditando as regras do jogo, para mim, era algo mágico.
                Não entendia como o futebol da Espanha era tão aclamado. Via aquilo como uma atividade recreativa nas escolinhas de futebol, algo tão banal, primário, a simples execução de um fundamento do futebol: o passe. Era muito mais o futebol da Holanda, mas não deu e o “tic tac” foi (enfim) campeão mundial. Mas não demorou muito e o sistema foi neutralizado. Afinal todos tinham tido essa aula e sabiam que, para impedir uma troca de passes, era preciso diminuir os espaços, marcar pressão. O Bayern (olha eles aí) aplicou, na soma dos placares, sete a zero (e os 7 gols também) no Barcelona e acabou sendo campeão da Champions logo em seguida. Daí em diante a “magia” do toque de bola e a posse da mesma beirando 80% no jogo já não resolvia a partida.
                Então chegamos à Copa e, de cara, a revanche da última final. Resultado? Goleada na então campeã: 5 X 1 para a Holanda. Time novo, mas com os grandes nomes da última campanha. Optei por não me apegar muito, pois me conheço e sabia que iria me “perder em campo”.  Chegou a fase eliminatória e decide assistir Brasil e Chile. Lembrei-me dos tempos de colégio e a tão disputada partida de queimada. Sim, isso mesmo: queimada!! Ficávamos jogando a bola por cima dos adversários, fazendo-os correr de lá para cá. O Brasil parecia fazer o mesmo: chutão da zaga para o ataque, nada de meio campo. Passou no sufoco. Vi o jogo que decidiria quem seria o adversário do Brasil e pude apreciar uma Colômbia que sabia o que fazer com a bola, tocando de pé em pé. Temi pelo pior e cravei a derrota do Brasil, reforçando que o fator sorte poderia imperar. E imperou, o Brasil fez seu melhor jogo, trocando passe pelo meio, sem tentar resolver com chutão... mas ainda era uma equipe frágil.
                Quis o destino que viesse a Alemanha na semifinal. Perguntaram-me qual seria o placar do jogo. Eu, observando todos os olhares de reprovação, optei por ser conservador e emplaquei um dois a um para a Alemanha. Pra que... todos presente começaram a esbravejar. Mas durou pouco, pois logo o placar estava aberto e, sem muito demora, dilatado de forma que seria impossível reverter. Não pelo número, mas pelo desnível de forças ali presentes. Resultado óbvio e esperado: vitória da Alemanha. A goleada foi só para mostrar que as coisas estão muito erradas. Depois ainda escutei um “preferia que você às vezes estivesse errado”. Não é questão de não ser patriota. Gosto do bom futebol, da arte em sua mais bela forma, e não uma simples camisa. Prefiro a frieza de prever uma derrota pela fragilidade de um todo a ser o patriota fanático que brada o hino às lágrimas e, no momento da derrota, passa a vaiar e a xingar aqueles que até então estavam a representá-lo.
                Pois bem, para não ficar só em cima de discussões vazias, resolvi levantar alguns dados. Primeiro fiz um comparativo entre as duas equipes pelo site da FIFA  até então. Os números eram quase os mesmos: número de gols, assistências... Agora faltas e passes corretos a Alemanha tinha o dobro a seu favor (menos cartões e mais passes). Veja bem, não era por quantidade de passes dados, mas pela efetividade dos mesmos. Após o jogo, fiz um levantamento das duas seleções desde 2006. Isso é algo que faço sempre depois de qualquer grande conquista em grupo. Por quê? Vejamos:

 A Alemanha tem na Copa de 2014 onze jogadores que participaram da última Copa, dos quais oito foram titulares hoje, além de um técnico que está no grupo desde 2006 (então auxiliar). De todo o seu plantel, 12 dos 23 (mais de 50%) convocados jogam juntos, divididos em dois times: Bayern e Borussia. Cinco deles vêm desde a Copa de 2006. Em resultados, a Alemanha foi 3º em 2006 e 2010.

O Brasil tem na Copa de 2014 tem 5 jogadores da última Copa (dois eram titulares) mais o Fred (2006). A melhor marca é ter 3 jogadores no Chelsea (um é titula na seleção) e 2 no Barcelona (ambos titulares). Da Copa de 2006, só Júlio César, Fred e Parreira. Em resultados, o Brasil foi 5º em 2006, 6º em 2010.

                     A conclusão é sempre a mesma: o sucesso é algo se colhe com o tempo. Um grupo vencedor é feito com muito trabalho, tem que “calejar”, aprender nas derrotas. O imediatismo brasileiro muitas vezes faz com que desistamos na primeira queda. Achamos que é hora de mudar, que está tudo errado. A Itália saiu na fase de grupos na Copa passada e manteve o técnico (que pediu demissão agora, mas já tem o grupo ao seu lado), o Klismann vai continuar seu trabalho na equipe dos EUA, a Bélgica e a França vieram para cá pensando em 2020, até a Holanda, que ainda mantém seus medalhões, trouxe uma molecada para pegar o ritmo pra 2020. Quer dizer, está mais que provado que a cultura futebolística brasileira tem que sofrer uma reforma. Chega dessa mesmice de “perdeu, troca o técnico”. É hora de começar a aplicar um conceito difundido no mundo esportivo mundial (aqui é lenda!!): ciclos olímpicos. Pensar de quatro em quatro anos, saber esperar, construir o sucesso. Qualquer grande construção está apoiada em uma base sólida, firme. O imediatismo não leva a nada. A sorte às vezes resolve, mas não dura para sempre



ALEMANHA

2006
2010
2014
GOLEIROS
Jens Lehmann
Manuel Neuer
Manuel Neuer

Oliver Kahn
Tim Wiese


Timo Hildebrand
Hans Butt

ZAGUEIROS




Marcell Jansen
Marcell Jansen
Erik Durm

Arne Friedrich
Arne Friedrich
Kevin Grosskreutz

Robert Huth
Denis Aogo
Benedikt Howedes

Jens Nowotny
Serdar Tasci
Mats Hummels

Per Mertesacker
Per Mertesacker
Per Mertesacker

Christoph Metzelder
Jerome Boateng
Jerome Boateng

Philipp Lahm
Philipp Lahm
Philipp Lahm


Holger Badstuber
Shkodran Mustafi
MEIO CAMPO




Sebastian Kehl
Piotr Trochowski
Goetz

Bastian Schweinsteiger
Bastian Schweinsteiger
Bastian Schweinsteiger

Torsten Frings
Mesut Ozil
Mesut Ozil

Michael Ballack
Thomas Muller
Thomas Muller

Thomas Hitzlsperger
Marko Marin
Julian Draxler

Tim Borowski
Toni Kroos
Toni Kroos

Bernd Schneider
Sami Khedira
Sami Khedira

David Odonkor

Matthias Ginter



Christoph Kramer
ATACANTES




Lukas Podolski
Lukas Podolski
Lukas Podolski

Gerald Asamoah
Mario Gomes


Miroslav Klose
Miroslav Klose
Miroslav Klose

Oliver Neuville
Cacau
Andre Schurrle

Mike Hanke
Stefan Kiessling

TÉCNICO




Klismann
Loew
Loew
AUXILIAR




Loew


CLASSIFICAÇÃO
 Terceiro
Terceiro







BRASIL

2006
2010
2014
GOLEIROS




Dida
Gomes


Rogerio Ceni
Doni


Julio Cesar
Júlio César
Júlio César
ZAGUEIROS




Cafu
Maicon
Maicon

Cicinho
Michel Bastos
Maxwell

Roberto Carlos
Thiago Silva
Thiago Silva

Gilberto
Gilberto
Davi Luis

Cris
Daniel Alves
Daniel Alves

Lucio
Lucio
Marcelo

Juan
Juan
Dante

Luisão
Luisão
Henrique
MEIO CAMPO




Emerson
Elano
Luis Gustavo

Zé Roberto
Ramires
Ramires

Gilberto Silva
Gilberto Silva
Fernandinho

Edmilson
Kléberson
Hernanes

Kaká
Kaká
Oscar

Ronaldinho Gaúcho
Júlio Batista
Willian

Ricardinho
Josué
Bernanrd

Juninho Pernambucano
Felipe Melo
Paulinho
ATACANTES




Ronaldo
Nilmar
Neymar

Adriano
Luis Fabiano
Hulk

Robinho
Robinho

Fred
Grafite
Fred
TÉCNICO




Carlos Alb. Parreira
Dunga
Felipão
AUXILIAR






Carlos Alb. Parreira




CLASSIFICAÇÃO
Quinto
Sexto