quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ciclo natural


    
     Essa semana começou difícil: treino cabulado, pequeno acidente no sábado, molho no domingo e daí pra frente uma letargia tremenda. Nada de treinos! Até ontem.
     Postei a respeito do momento, todos os detalhes do meu tombo, como havia ido parar no mundo da preguiça e minha dificuldade de abandoná-lo. Reler o texto foi como parar em frente ao espelho e fazer uma auto análise. Pude perceber que, mesmo aproveitando ao máximo o ócio, auilo não era pra mim. Esses dias sem treinar me deixaram mais tenso ("é possível?" Sim!), irritado, inquieto. Sentia que estava faltando algo, que para mim é muito importante: treinar!
     Sou de carne e osso, tenho tentações, às vezes roubo alguns minutos do relógio para esticar uma soneca, mas quatro dias sem fazer nada, nenhum movimento mais intenso. Corrida, pedal, musculação, N.A.D.A.! Realmente isso não me pertencia. Passei a tarde remoendo o que havia escrito. Sabia que tinha acomodado e precisava fazer algo para reverter a situação. E tinha que ser breve!
     Chegando em casa coloquei o tênis e, sem pestanejar, me joguei na estrada. Rodei, rodei, rodei... tentando manter a passada cadenciada, percorri parte da Unicamp: subidas, descidas, retas. Falta de energia não seri o problema! 10 quilômetros depois, estava em casa para a tríplice sagrada: banho, rango e cama.
     Hoje, logo cedo, mas precisamente 5:30 da manhã, despertei sem mais nem menos. Antes que pudesse cair em tentação, me retirei do conforto da minha cama, que permaneceu ali, sedutora, me pedinod para voltar. "Não!". Troquei de roupa, peguei a bike e fui pedalar. Foram apenas 25 km, mas muuuito frios!! O suficiente para reativar corpo e mente.
     O certo é que não se pode fugir de algumas coisas. Por mais que tentemos, existem leis e devem ser cumpridas, principalmente as da Natureza. Por mais cômodo que seja o ventre, chega a hora do parto. No momento certo os ovos eclodem e os novos seres dão sequência à vida. É chegada a hora de mudanças. Quebrei a casca do ovo que me protegia. Estou de volta.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Preguiça



     Se fosse preciso descrever a semana até aqui, com apenas uma palavra, essa seria PREGUIÇA. Acho que a maior alteração de frequencia sofrida nos últimos 5 dias foi fazendo uma omelete. Sério, nada de treinos, exercícios, atividade física, acordar cedo...passado.
     Tudo estava indo muito bem até sábado. Estava com uma rotina estabelecida: acordava às 6 horas, fazendo 30 minutos de atividade moderada antes do café, jornada de trabalho, personal e, para fechar o dia, uma sessão maior, de bike ou corrida. Perfeito!
     Mas veio o dia 23 de junho e com ele as desventuras. Como de costume, a manhã estava reservada para um pedal maior, fazer uma rodagem considerável, aproveitando o day off. IMPOSSÍVEL!!! O dia estava limpo, sem núvens, não tão drio, mas um vento descomunal. Nas ruas o que se via eram as copas das árvores mexendo violentamente, de um lado para o outro. Melhor tentar o pedal mais tarde...
     Logo às 15 horas, Sol firme, sem chances de passar frio com a chegada da noite. Daria para pedalar por pelo menos duas horas antes de esfriar. Perfeito! Direto pra Unicamp, onde todos os treinos de bike têm sido feitos. E não demorou muito para se descobrir que o dia não estava pra pedal. Era como pedalar em um túnel de vento (contra, claro!). Cada quilômetro, cada metro era feito com força, não interessando se estava em reta, subindo ou descendo. Não havia posição para cortar tamanha resistência. A velocidade da bike não passava de 22 km/h. Mas não queria apenas voltar pra casa. Tentei fazer daquele um treine (bem) resistido. Até que peguei um vento lateral e ele quase me derrubou. Putz, foi por pouco. Segurei a bike no reflexo. Era o fim, hora de regressar.
    Em casa, já sem os trajes do ciclismo, não conseguia aceitar passar o sábado em branco. Tinha perdido no pedal, mas poderia dar o troco correndo. Me aprontei e, naquela que seria a pior atitudes dos últimos tempos, levei meus dois cachorros pra correr comigo. Tudo indo bem, um puxando pra cá, o outro pra lá, eu tentando encaixar um ritmo aceitável e, aos trancos e barrancos fomos. Não tinha nem 5 km quando um dos corpos estranhos que carregava junto a mim resolveu parar na minha frente abruptamente. Sem reação, apenas a sensação de impotência. Estava eu estatelado em um cruzamento de Cidade Universitária, olhando para cima e com dois cães de guarda sentados ao meu lado. Certeza que eles riam por dentro, mas devido aos anos de convívio, sabiam que transparecer isso não seria uma boa idéia ali. Me levantei e percebi que meu antebraço direito não mexia. "Pronto, mais essa: quebrei o braço". Voltei pra casa, tomei um banho de canhoto e, após ensaiar duas vezes uma ida ao hospital, preferi dormir e deixar pra domingo a radiografia.
     Esse incidente me fez ficar de molho, um dia inteiro de cama, braço imobilizado, pernas pra cima, o que reativou meu lado preguiçoso. Redescobri o prazer de ficar sem fazer nada mais um pouco e isso me se alastrou pelo meu corpo. Já estamos em plena quarta-feira e até agora todos os despertadores das 6 horas da manhã foram ignorados, todos os treinos noturnos foram abolidos, me restando apenas contar as horas para voltar pra casa, vestir algo beeem confortável e descansar.
     O pior que tal situação só me incomoda enqunto estou em horário de trabalho. Quando saio já esqueci o quanto tal situação me atormentou ao longo do dia e me concentro apenas em reviver os bons momentos da noite anterior, no conforto do lar.
      O alarme disparou, preciso fazer alguma coisa. Semana que vem ressucitarei a famosa planilha de 10 semanas rumo à Maratona de Buenos Aires. Lá não tem espaço pra moleza, é um dia mais duro que o outro. Até o descanso é sofrido. Agora é decidir como proceder até segunda: iniciar um trabalho de rodagem ou descansar mais um pouco?
   

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Fim de expediente

  
    Enquanto agosto não chega ( e com ele minha primeira específica para o Ironman), vou seguindo com o projeto de me manter condicionado e disciplinado.  Durante a semana são dois períodos: o primeiro logo às 6 da manhã, mais moderado, só para a readaptação da prática esportiva nas primeiras horas do dia. O segundo é feito no fim do dia, quando já acabei minhas obrigações e posso dedicar um tempo maior ao treino. Aos finais de semana deixo para fazer um treino de transição bike/corrida e meu longão da semana. Puxado, cansativo, às vezes exaustivo, mas nem por isso tem que ser de má qualidade!
    Campinas está em mais um momento bizarro quanto a previsão do tempo. Contrariando sua primeira semana de inverno, os dias estão bem quentes e os fins de tarde deliciosamente agradáveis. Sair de oito horas trancafiado em uma sala bege, em frente a um computador, fazendo algo nada prazeroso e, ao sair do trabalho ser recebido por uma brisa morna e um pôr do sol no horizonte, soa como um convite: hora de treinar!
     Corro para casa, troco de roupa, pego a "magrela" e saio pra pedalar. A troca abrupta de ambiente é tão agradável que, para compensar todas as horas de trabalho, tem-se a vontade de pedalar na mesma proporção de tempo.
      Mesmo mantendo um ritmo considerável, pode-se admirar o desfecho de mais um dia de forma única: em meio ao revezamento sincronizado entre Sol e Lua, um repertório infinito de cores faz as honras pra a caída da noite.
      Com o caminho livre para rodagem e bem disposto, os quilômetros vão surgindo no ciclocomputador e a única meta é manter uma velocidade de 30 km/h. Uma, duas, cinco, dez, onze voltas depois e com 60 quilômetros de saldo, é hora de encerrar as atividades hoje.
      Banho, rango e cama, essas são as últimas do dia. Tic tac, corre o tempo. Amanhã logo cedo tem mais!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

código 1241

    Até agora eram apenas incertezas. Uma noite mal dormida, muita correria, uma dívida de quase 700 dólares e muita conversa. Nenhuma certeza, nada além de um e.mail de congratulações, uma fatura de cartão de crédito e muita expectativa. Até hoje!
    Algumas horas atrás chegou o tão esperado e.mail da organização do Ironman. Confirmavam minha inscrição e abriam o site do evento para maiores esclarecimentos. Lá já se encontrava a lista com todos os inscritos para o ano que vem, em ordem alfabética e com suas respectivas categorias. E, ainda bem, estava entre eles!



     Justamente na semana em que retomei contato com o Marcinho, responsável por me orientar rumo a esse desafio, vem a confirmação. Coincidência? Um sinal? O certo é que, de agora em diante, não haverá mais descanso. É chegada a hora! Muita ralação, dedicação, abdicações e treino, treino, treino... Fim de labuta, início de outra. Agora é a hora: cada braçada na piscina, cada minuto rodado em cima da bike, cada passo corrido, cada gota de suor de verá ter um significado. O que for em vão, tem data e hora para ser cobrado: 27 de maio de 2012. Tic tac, o relógio está correndo...

domingo, 10 de julho de 2011

Duets

    
     Perfeito! Definidas assim pela maioria daqueles que são agraciados em conhecê-las, têm suas origens remetidas aos deuses. É incontestável o prazer que elas proporcionam, te deixam em transe, como se nada mais importasse à sua volta. é como se houvesse encontrado o pote de ouro no fim do arco-íris! Um feijão novinho, um belo naco de goiabada cascão, um riff mestre Eric Clapton em sua guitarra...Perfeito, não tem como ser melhor! Não mesmo?
     É quando tais elementos justificam sua divindade e te surpreendem ainda mais. Juntados a outros elementos, se tornam insuperáveis, inesquecíveis. Queijo com goiabada, feijão com arroz, Eric Clapton e BB King tocando juntos e, por que não, ciclismo e corrida.
     Treininho de sábado, manhã fria, 5º em Campinas, muita roupa de frio e bike na estrada. Difícil encarar o vento cortante logo cedo, em pleno sábado. "É assim que se fica forte". Não adianta pressa, tem que encaixar o ritmo e pedalar, cadência, ficar ali vendo os quilômetros aumentarem, um a um, esperando atingir a meta do dia. Qual a meta? 45 quilômetros.
     Uma volta atrás da outra, subidas, descidas, muuuito frio, mas o corpo encontra o ponto de equilíbrio e ali permanece. 5, 10, 20, 30, 40, 45 quilômetros depois, já com duas horas de pedal, e ainda agasalhado, hora de abandonar toda a parafernalha do ciclismo e partir pra segunda etapa: a corrida.
      Os primeiros passos foram os piores. É como se, ao invés de pés, tivesse cascos. Não sentia os dedos, nem suas articulações, como se estivesse tudo congelado do tornozelo pra baixo. Penso que, com o passar do tempo, talvez passe. Primeiro quilômetro, segundo, terceiro e nada. Ainda parecia correr em cima de pernas de pau. Só após o quinto quilômetro que paro de pensar em meus dedos (até agora não sei quando realmente voltaram ao normal!!!). Mas o tempo passa, o corpo a tanto estímulo, está endorfinado, quer mais, precisa de mais, não pode parar. O certo é que a corrida se prolonga por quilômetros até então fora dos planos de treino e, já travando um duelo entre o racional e o emocional, o treino de sábado chega ao fim, com a certeza de ter encontrado mais uma combinação para os grandes duetos da vida.

     

sexta-feira, 8 de julho de 2011

É assim que se fica forte!



     A semana começou diferente. Novo quadro no Fantástico, denominado Planeta Extremo, que irá tratar de algumas visitas a lugares pouco convencionais. Nada melhor para estréia, em uma semana que prometia muuuuito frio e abordagens em qualquer planejamento de treino, do que um episódio gravado em um dos ambientes mais frios e inóspitos do planeta: a Antártica. Pra ajudar, enfiar o dedo na ferida mesmo, ainda apresentando a Maratona disputada naquele grande cubo de gelo.
     O desafio era simples: enfrentar temperaturas que fariam as manhãs atuais de São Paulo parecerem de verão, ventos que não te deixam andar em linha reta, pisando em um branco irritantemente límpido, com um sol que, nessa época do ano, não dorme nunca, além claro de correr os 42 quilômetros da prova!
     O Clayton (repórter da matéria), já conhecido por sempre estar envolvido em projetos fora do comum como surfar a Porororca, escalar o morro do Pão de Açúcar, era o interlocutor e iria fazer a Maratona. Mas estava acompanhado de em camarada chamado Bernardo Fonseca. O planejamento dele era fazer os 15 primeiros quilômetros da Maratona para se preparar para os 100 quilômetros que seriam disputados horas depois da primeira prova.
     Pelo simples fato de estar se sentindo bem, decidiu continuar. Veio a frase que, com certeza, povoou muitos definições nas mídias virtuas, seguindo uma citação de Lance Armstrong (um mito do ciclismo mundial): "o sofrimento é passageiro, desistir é para sempre." Com um mantra desses, move-se montanhas. E ele moveu! Ganhou a Maratona (com recorde!), se prontificou para os 100 km e, mais uma vez, ganhou.
     Passei a semana inteira revirando a tal frase, repassando as imagens da prova, mas ainda sim desistia. Não fui nadar terça e nem quinta, não pedalei segunda e nem quarta. do que adianta admirar ações, aprender algumas lições e não colocar em prática? Nada!
     E ontem, já fechando meu dia, me deparo com um post no facebook do Bernardo, onde ele diz: "bom dia amigos! ótimo dia para treinar no rio! frio e chuva! assim que se fica forte!". O cara me deu o segundo soco em menos de uma semana! Chega, hora de reverter o jogo. Estava perdendo pra mim mesmo.
     Logo cedo, termômetro marcando 8º, o rosto ardendo, lágrimas escorriam pelo rosto, quilos de roupa me aqueciam enquanto pedalava até o local do treino. Chegando lá, uma última avaliada na situação. "Está certo disso?". Tudo pronto, devidamente trajado, sem mais dúvidas. Me joguei de cabeça na piscina, senti meu corpo "trincar", parecia estar congelando. Distribui algumas braçadas, na esperança de estabilizar logo minha temperatura corporal. Treino iniciado, agora vamos até o fim. Assim que se fica forte!