Não há dúvidas: comprei uma boa bike. De uma marca renomada no ciclismo, possui um quadro ótimo, ma seus componentes, como a própria categoria à qual pertence, são de entrada. É usado o que há de mais simples, o que inferioriza a bicicleta e a deixa com um preço mais acessível (????).
E aí a vontade de dar uma melhorada, trocar algumas peças ou até mesmo arranjar uma bike própria para o triathlon. Mas, mesmo antes de adquirí-la, ouvi do Mestre Orival :"Compre uma Caloi 10 e vá dar pernada. Sem motor, não adianta carcaça". Ultimamente conversei com muita gente a respeito do assunto e a resposta é sempre a mesma: "Precisa de ter motor. Não adianta ter bike top, tem que pedalar bem". Consenso.
Sábado foi dia de pegar a estrada. Longão de bike marcado, três horas de pedal. Mogi, lá vamos nós!!! Sozinho, para variar, devidamente aquecido, encaixei o ritmo e fui. Prestando atenção na postura, na pedalada, na cadência, tudo que poderia interferir na performance. Corrigir agora para não pecar depois. Tudo indo muito bem até que aconteceu. Dois ciclistas, com seus bonequinhos do Ironman na panturrilha e suas bicicletas TT passaram por mim. Pronto, hora de por à prova tudo conversado anteriormente. A idéia era simples: não perdê-los de vista. Passá-los talvez fosse demais, mas conservar a distância entre eles e eu não.
Nem só de retas é formada a estrada que liga Campinas à Mogi. Nas descidas, mesmo atingindo quase 60 km/h, ficava difícil não perder um pouco de contato. Ponto para aerodinâmica. Agora, quando as pirambeiras apareciam, ficava claro que estava melhor das pernas que eles. Mal começavam a subir e já estavam fora do selim, fazendo força, jogando a bike de um lado para o outro. Brincando com as combinações da bike, e sem nenhuma vergonha, jogava na coroa menor, me ajustava e, sem perder na cadência (90rpm), fazia a rampa sem me erguer, tirando bastante a vantagem conseguida por eles na descida e retomando o contato proposto. Permanecemos assim por quase 30 quilômetros. Então, como que surgisse do nada, apareceu algo que parecia uma encosta de uma montanha, uma imensa ladeira. Talvez nem fosse tão grande, mas pelo cansaço do momento, essa era a sensação! Decidi não forçar tanto, pois meus planos incluiam mais algumas horas de pedal. E assim os vi sumirem no cume e, ao chegar no topo, não os via à frente.
Segui a jornada, passando pelo viaduto de Holambra e seguindo rumo à Mogi-Mirim. Mesmo sozinho, com vento na cara, seguia harmoniosamente. Cruzei com um ciclista, voltando à pé, empurrando sua bike na contramão. Reduzi, ofereci ajuda. Ele disse que o pneu tinha rasgado, mas que já havia solicitado socorro. Continuei meu caminho. Por pouco tempo.
Acho que nem um quilômetro havia se passado após o encontro quando, na altura do posto de descanso da Rodovias, ouvi aquele barulho que perambula em todos os pesadelos dos ciclistas: shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii..... Pneu furado!! Que beleza, hora de colocar as aulas de mecânica em pratica. Saí da estrada, retirei a roda e observei que um arame, tipo grampo, havia perfurado o pneu, entortado e furado novamente. Dois furos!!! Uma semana de vida e já tinha dois furos no pneu novo. Iria ser premiado com todos os cacos, arames e pedras presentes na estrada entrando por aqueles buracos e furando minhas câmaras de ar? Isso inviabilizaria chegar em casa pedalando. Por via das dúvidas, melhor fazer o retorno e tocar pra Campinas. Quanto mais perto de casa, mais fácil arranjar carona. Dobrei um pedaço de plástico e o coloquei na altura dos furos. Assim, entre a câmara e o asfalto, teria uma proteção extra. Era contar com a sorte e partir.
Passando pelo viaduto de Holambra, vi que meus pacers saiam do posto, logo à frente. Ótimo, começaria a diversão novamente! Sabia que a volta é mais suave e, por isso, poderia forçar um pouco mais. Me mantive na cola. Observava que, a cada subida, pior era o rendimento de ambos. Seguindo a leis da selva, e no papel de predador, não poderia perdoar uma presa fragilizada. Parti para o ataque. Pernada atrás de pernada, passei os dois quase chegando em Jaguariúna. Porém, pelo lado interno da pista, me deparei com uma centena de olhos de gato em linha. Tive que reduzir para não destruir a bike. Os vi passar novamente e, em descida, ganharem distância. Hora de remar novamente.
Já bem cansado, mas com muita vontade de colar novamente, puxei até o pedágio. Agora era a hora de atacar novamente. Passei na reta, sem pensar muito e entrei na última descida antes que me separasse deles. Sabia que seria pulverizado no declive, mas por conta da geometria favorável de suas bikes. Sem problemas, tinha para mim o gostinho de dever cumprido. Com uma bike quase 10 mil reais mais barata, fui a sombra por mais de 50 km e não deixei que simplesmente passassem e desaparecessem. Parece que a produção do motor está encaminhada. Por hora vamos com uma carcaça mais simples. Num futuro próximo quem sabe mudamos a carenagem!
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