sábado, 27 de agosto de 2011

Supercompensação




     As duas últimas semanas foram bem complicadas. Uma vez periodizado o treino, não restam muitas dúvidas sobre o que fazer. Basta uma simples consulta na planilha e já se temos uma resposta. Assim se tem a real noção de como vai ser a semana de treino, quanto tempo extra nos resta e com o que podemos nos comprometer fora o que está planejado. Parece simples, mas não é!

     Às vezes surgem compromissos, oportunidades, eventos sociais, enfim, situações que não são facilmente conciliáveis com o que se tinha em mente quanto ao treinamento. E parece que foi tentado por tais situações nos últimos 14 dias. Primeiro teria a etapa do Troféu Brasil na USP, oportunidade única para vivenciar, mesmo que como espectador, uma grande prova de triathlon, com atletas renomados, de um alto nível técnico. Não tinha como dizer não, mas o que fazer com os treinos do final de semana? Tive que, como se estivesse brincando de Lego, reconstruir as peças que tinha em mãos, para assim não deixar nada sem fazer. Resultado: comecei a fazer as sessões de treino a cada 12 horas, inclusive um longo de bike, seguido por 27 km de corrida. Fui literalmente quebrado para São Paulo, mas sem dívidas!!!

     Minha semana de treino começa na quarta (não, não podia ser normal e começar na segunda. Receber a planilha no domingo, assistindo Fantástico e planejando os horários. Tinha que ser diferente!) e logo na terça, enfim, negociei meu retorno à academia. Coincidentemente na quarta meu único compromisso era musculação. Treino na hora do almoço, tempo hábil, trabalho apenas com os grandes grupos, exercícios com peso livre e pronto. Tudo lindo até que o corpo esfriou. Meu Deus, não lembrava mais como era ficar travado de tanta dor muscular. Perfeito ficar todo debilitado 24 horas antes do dia mais puxado da semana. Não estava conseguindo me manter em posição ereta, imagina se conseguiria nadar, pedalar e correr na quinta? Nunca!!!

     Quinta-feira, grande dia, péssimas condições físicas. O que fazer? Uma coisa que tenho como certa é nunca faltar ao treino de natação. Primeiro porque são dias específicos, com horário marcado e que, fora eles, não tenho mais acesso. Além disso, é onde me sinto mais vulnerável e sei que, mesmo que proporcionalmente ela seja irrizória, tenho que aprimorá-la, pois assim sofrerei menos para completá-la ao competir. Agora, pedalar e correr no fim de tarde seria impossível. minhas costas estavam me matando. Repouso imediato. Talvez na sexta estivesse melhor.

     Na sexta acordei com um pouco menos de dor, mas ainda estava meio travado. Ainda pagava pelo abuso no treino de musculação. O lado bom de toda essa dor foi me fazer pensar sobre como dividir meu treino de musculação, para não correr o risco de comprometer as outras sessões da planilha. Mas e aí? Ainda tinha uma dívida a pagar. Quando? Talvez mais tarde? Parecia plausível. Até que veio ele: o convite.

     Estava quase no fim de expediente, natação do dia ok, pronto para começar a pagar minha dívida 9e promessa!!!), quando recebo a proposta: jogar bola às 19 hs. Putz, quanto tempo não batia uma bola. Fiquei tentado, mas não confirmei. Sentei, pensei, pensei, o treino certo de sexta anoite era uma rodagem tranquila, pra soltar de pancada de quinta, a qual não tinha feito. Tecnicamente não merecia descanso, então não era o treino apropriado. Mas um futebolzinho se encontra entre uma hora de corrida tranquila e uma sessão de tiros intermitentes de 20 metros. Fui jogar!

     Devidamente fardado, aquecido, comecei a pensar que, caso me machucasse ali, poderia colocar muita coisa a perder (fora o esporro que iria levar, não é professor?). Nossa, joguei na maior paz.Sem rachar bola com ninguém, nada de muito contato físico, apenas na parte física. Até que, vi um maluco indo sozinho contra meu goleiro. Não me aguentei. Foi instintivo. Saí correndo atrás dele, como se estivesse a caçar minha última refeição. Travei a bola com o cidadão e então ouvi um barulho horripilante. Meu tornozelo estralou de uma forma tão estranha, que na hora tive certeza do pior. "Já era, arrebentei o pé!". Parei, apalpei, inchado como sempre, torção de leve. Sabia que doeria quando esfriasse, mas por hora estava bem. Fim de jogo. Mas e a dívida, como ficamos?

     Não dava mais para adiar. Tinha duas horas de pedal marcadas para hoje de manhã. Resolvi adicionar, em meio a esse tempo, o treino de rampa de quinta, cumprindo dois treinos em um só. Ok, sei que foi meio acochambrado, mas foi na melhor das intenções. Era isso ou perderia o treino de quinta. Hills cumpridos, duas horas pedaladas, faltava a última parte, a cereja do bolo: 40 minutos em um pace de 5'10" por km. Como sou meio metódico, não consigo deixar nada quebrado, por isso sempre faço 8 km no ritmo proposto.
Deixei a bike em casa, coloquei o tênis e parti. Praça com chão de terra batida, medindo 410 metros, ao lado de casa, não poderia ser melhor. Uma, duas, três, cinco, dez, vinte voltas e 48 segundos de crédito. Pronto, não foi da forma proposta, mas cumpri da maneira que consegui conciliar. Ainda tenho 30 km para amanhã, mas pelo menos estamos em dia.

     Depois de toda essa correria, todas as tentativas de preencher as lacunas deixadas ao longo dessas duas semanas, comecei a pensar no porque do triathlon requerer exclusividade quanto à sua prática. Por ter três modalidades inclusas, possui uma carga muito alta de treino, horas e horas semanais de dedicação e, caso você ainda consiga uma sobrinha para praticar mais alguma coisa, vai descobrir que não conseguirá fazê-la com o seu melhor. Seu corpo não responderá aos estímulos como fazia antigamente. Por isso, talvez seja melhor não se expor tanto assim!! Se existe um planejamento, é para seguí-lo. Não adianta querer abraçar o mundo, muito menos carregá-lo nas costas. O preço que se paga por tentar é muito alto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário