sábado, 17 de março de 2012

Sábado de Sol

   
 Final de semana: para muito sinônimo de ócio, descanso, dormir até mais tarde sem culpa, balada, já para outros... Logo às 5:30 hs da manhã, depois de não dormir nada bem, pois parecia estar resfriado, estava de pé para mais um longão de bike: 5 horas de pedal! Dessa vez, além do Felipe (velho de guerra), iria conosco o Zoin (Bruno Zouain). Nunca tinha pedalado com o cara, mas havia ouvido apenas um comentário: "o cara é carniça. Colocou 37 km/h de média". Sem meia palavras: ia ser tenso!

     Marcamos a 7 horas no posto policial e, quase pontualmente, partimos. O Bruno já sugeriu uma média de 32 km/h (querendo falar uns 35 km/h com certeza). Eu ria por dentro, mas não me pronunciei, deixei que o Felipe respondesse, o qual já colocou estar acima da (nossa) capacidade. Fechamos que íamos tentar fazer um pequeno pelotão e, roda a roda, puxar ao máximo. O Felipe já saiu na frente. Não entendi nada, pois até pouco tempo dissera que seria demais e já começava puxando. Beleza, Zoin e eu fomos atrás, conversando um pouco, sem pressa. Primeira subida, primeiro côco. Ele passou como se ainda estivéssemos na reta. Eu travei, mas segui em frente, emparelhando lá em cima. Felipão não estava num dia sociável: ou ele passava por nós como um raio, ou deixávamos ele pra trás, nunca estávamos juntos. Colei no Bruno e, sabendo que a volta dele era bem menor que a minha, resolvi aproveitar a presença de um pacer de luxo e propus uma arrancada até Holambra. Delícia!!! Ele, fácil, mantinha um ritmo tranquilo, já eu, estava rodando a mil. De olha na técnica, frequência cardíaca um acima do previsto, mas "sentando a bota". Nesse meio tempo,  Zoin levantou um detalhe do momento: "Sente o ventinho contra". Mal sabíamos o que, cada um dos três ao seu momento e sozinhos, teríamos pelo caminho de volta. Chegamos à Holambra, nos despedimos, eu segui, ele retornou.

     Tentei ver onde estava o Felipe. Queria saber se continuaria ou retornaria dali.De tanto olha para trás, esqueci de olha para frente e, quando vi, estava fora da estrada, já na grama. Trepidação pura. Consegui segurar a bike, minimizar o estrago e voltar para a pista. Continuei meu pedal. Após uns 3 km do incidente, resolvi dar uma consultada nos dados do pedal junto ao Garmin que se encontrava em meu punho. ENCONTRAVA! Olhei para o braço e nada, nem sinal do digníssimo. Só pude soltar um "ou", nada mais. Gelei! Nem acabei de pagá-lo e já havia perdido? De jeito nenhum! Virei a bike e voltei na contramão. Cruzei com o Felipe, falei para seguir em frente e vim rastreando cada centímetro de asfalto. Certo de onde o  encontraria, não deixava passar nada. Se soubesse realmente onde caíra, teria pego no exato momento da queda. Cheguei até a fatídica grama, desmontei da bike e fiquei a andar pelo acostamento. Não sei o que se passava pela cabeça daqueles que por ali passavam, mas a cena era única: um ciclista, devidamente fantasiado, andando pelo acostamento em zigue-zague, olhando fixamente para o chão. Louco! Mas valeu a pena, pois achei o bendito, coloquei-o na bike e retomei meu treino.

     Refiz o caminho e continuei à frente. Mogi Mirim, Mogi Guaçu, todos os "mogis" possíveis eram deixados para trás. Como no último treino de 5 horas fizera o retorno após o "Mogi Guaçu", perto da Crystal e não conseguira atingir o tempo estimado, resolvi prolongar um pouco mais e, ao ver 75 km no Garmin, fiz a volta e rumei para Campinas.

    Não foi necessária a segunda pedalada. Bastou apontar o nariz no sentido oposto ao que me encontrava e já sentia-me sendo empurrado para trás. Era com se alguém não quisesse que eu seguisse, que, de agora em diante, ficasse em Estiva Gerbi para todo o sempre. "Não hoje, não eu". Desafiei as forças da natureza, crente que, logo na primeira curva, todo voltaria ao normal. Doce ilusão. Descoberta do dia: o vento faz curva! Pelo amor de Deus, para onde eu apontasse, o desgraçado estava a resistir às minhas pedaladas. Pensei em tentar as técnicas de Alan Harper para escapar de uma ex-namorada furiosa (desculpe, só quem assisitu Two and Half Men). As demais técnicas não surtiam efeito. Clipando piorava. Decidi que iria de peito aberto, tentando manter a técnica, mas convicto que seria com muita força.

     E foi. Os "mogis não pareciam tão próximos como na vinda. Na verdade, era como se alguém estivesse escondendo o outro, pois eu não conseguia achá-lo. A essa altura já estava o pó, perdido em maus pensamentos, cansado, pensando em parar e pegar um ônibus. Não aguentava mais ser violentado daquela forma. Passara da conta. Nem Pirassununga fizera tamanho estrago. E ainda estava a mais de 60 km de casa. Tinha que continuar.

     Estipulei metas: Chegar ao viaduto de Holambra, rampa da Ambev, pedágio, polícia rodoviária e, enfim, Dom Pedro. Parti com isso em mente. Dividir para conquistar. Cadenciado, abaixo do pace previsto, mas indo. Holambra, feito. E o vento a todo vapor. Só aliviava quando passava algum caminhão tirando um fino, formando um vácuo. Era a paz momentânea. Mas logo começava tudo de novo. Era tão grave que eu tinha que pedalar para descer. Se resolvesse descansar as pernas, a bicicleta parava. Absurdo! 

     Ambev? Passado. Pedágio também. A essa altura o projeto de 5 horas já caminhava para 6 horas de muito sofrimento. O prazer de estar ali havia ficado lá no retorno, 60 km atrás. Consegui chegar à Dom Pedro, reanimar um pouco e apontar para casa. Agora era sussa. Mesmo com o vento, faria tranquilo. Rodo esse trecho quase todo dia, com uma bike muito pior e em condições mais adversas. Estava chegando.

     Mas tinha um problema: a corrida após o pedal. Estava tendencioso a abortá-la. Já tinha sofrido demais, minhas pernas reclamavam de desconforto. Entrei em Barão com 5:40 de pedal, entrei em casa e, sem nem pensar, coloquei o tênis e parti. Correr a 5:40 por km? Pensei que morreria ao tentar fazer isso. Tinha que pagar pra ver.

     Saí para rua e, já no primeiro passo, quase caí, O desnível calçada/asfalto parecia maior do que nos tempos em que tinha controle sobre minhas próprias pernas. Ajustei a passada e, ao olhar o Garmin, corria a 5:20 de pace confortavelmente. Bizarro! Fiquei chocado com tudo aquilo. Ou estava tão cansado que já nem ligava mais pra dor, ou realmente havia uma luz no fim do túnel. Mantive os 30 minutos assim e, enfim, regressei para por fim ao meu sábado de treinamento. Agora era tomar um banho e descansar. Descansar? Que nada! Partindo para trabalhar na corrida da Track & Field.

     É isso aí, cada uma aproveita seu sábado de Sol como bem entender! Amanhã tem mais e, até daqui dez semanas, também!

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