Quando começou não sei., mas as últimas semanas foram difíceis. O clima estava pesado, a afinidade parecia ter chegado ao final. Parecia que, sempre que nos encontrávamos, devíamos duelar, disputar para ver quem sairia vencedor, pomposo, cheio de orgulho por ter colocado o outro no chinelo. Amigos tentaram amenizar a situação, aproximar-nos, porém sem sucesso. Quem se metesse, acaba levando também. Então, aquilo que era para ser uma união estável, sólida, uma parceria invejável, estava com os dias contados. Será?
Chegara a hora de acertarmos de uma vez por toda. Passamos a semana toda apenas com as pequenas atividades, nada mais que uma hora a cada dois dias, mas sabíamos que o final de semana se aproximava e teríamos que definirmos nosso futuro. Seria pegar ou largar. Para todo o sempre! Isso me perturbou ao longo dos últimos dias. Resultou até em um post mais "afetado", onde parecia estar à beira de um abismo, cheio de dúvidas sobre como proceder. Enfim, seria no sábado e logo cedo. Não tive dúvidas, tomei duas cervejinhas na noite de sexta para relaxar, espairecer um pouco, deixar que o dia seguinte chegasse calmamente. Em meio à bons pensamentos dormi.
Cinco horas da manhã. O despertador anunciava o grande dia. Levantei-me, tomei meu café, me troquei e chequei os últimos detalhes. Ela me esperava lá embaixo. Peguei tudo que levaria , acoplei-os em seus devidos lugares e saí.
A ideia era começarmos de leve, não poderia, de cara, pressioná-la. Tinha que fazê-la relaxar, sentir que era bem tratada, que o que fazíamos era por prazer e que ambos saímos perdendo caso não houvesse entendimento. E assim fomos durante a primeira meia hora, quando resolvi ser mais incisivo, colocar à prova qual era o real patamar onde nos encontrávamos. Senti receptividade, como se gostasse do momento e decidi prolongar com aquele trato. Estava minucioso, atento a todos os detalhes, preciso em minhas ações, sem o uso de força.Como um experiente confeiteiro que, ao espalhar sua cobertura sobre o bolo, possui movimentos cadenciados, finos, buscando a perfeição no produto final, mantive meus movimentos sempre constantes e precisos.
E assim fomos, por duas horas e 58 quilômetros, harmoniosamente, sem muitos percalços. Então, já mais sintonizados, optei por pressionar um pouco mais. Não tinha certeza se isso seria o fim de um, até então, encontro perfeito, ou se estávamos, de novo, trabalhando como equipe. Nada, nenhuma reação contrária. Seguíamos no sentido contrário, vento no rosto, "cortando chão". Estávamos nos divertindo como a muito não fazíamos. Foi quando ele surgiu.
Saído do nada, logo à frente víamos um indivíduo que parecia estar rumando para o mesmo destino. Ao nos encontrarmos, ele propôs seguirmos juntos. Ele e sua companheira pareciam felizes, apresentavam-se vigorosos. Aquilo mexeu conosco. Se havia alguma rixa, estava encerrada por um bem comum. Para acompanhar o casal desconhecido era necessário nos esforçarmos mais. E nos esforçamos. Chegava a dar orgulho o quão impressionante estava nossa performance. Mas decidimos não manter tal postura e deixamos que o outro casal partisse, ficando a observar seu desaparecimento no horizonte.
Aquilo nos uniu. Sabíamos termos tomado a decisão certa. Continuamos, a dois, nosso passeio de reconciliação. E, em meio a aclives e declives prosseguíamos. à essa altura o Sol já estava bem assanhadinho e castigava aqueles que se atreviam a ficar expostos às suas graças. Já não víamos mais o tempo passar, não sentíamos as adversidades que era postas em nosso caminho, tudo corria perfeitamente bem. E então o vimos de novo. O casal que, de forma afoita, desaparecera à nossa frente, parecia não possuir o mesmo gás para tal ritmo. Dessa vez tínhamos um ao outro e não pararíamos por ninguém. Deu tempo apenas de um rápido cumprimento. Passamos firmes por eles e, sem tomar conhecimento, cruzamos o cume à frente.
Sensação maravilhosa! Estávamos graciosos, parecíamos um só. Começamos a cruzar com todos os tipos e, sem distinção de classe ou cor, deixávamos para trás. Parecia que tínhamos construído um bloqueio, pois nenhum corpo era capaz de se aproximar. Havíamos fechado um para o outro. Estávamos, enfim, acertados.
O que era para ser 5 horas acabou se tornando 4:38 horas, pois a vontade de mostrar que não estávamos ali apenas a passeio fez com que subíssemos o nível. Momentos difíceis todos tem, basta que os dois queiram, muito, e as coisas se acertam. Talvez tivesse sido mais fácil deixar de lado, desistir, ir embora ao invés de enfrentar o problema. Não aqui, não conosco. Nos fortalecemos quando superamos nossas dificuldades. Agora posso descansar em paz, pois sei que minha bike e eu formamos uma bela equipe.
Chegou a hora de relaxar. De uma forma temática, em homenagem a todas as pirambeiras que percorremos de Campinas até depois de Mogi Guaçu, abrirei uma Serra Malte e degustarei-a de uma forma lenta e prazerosa. E que venha o próximo pedal!
É nessas horas que dá aquele "tesão" para treinar mais e encarar o Iron de frente. Parabéns!
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