quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Maratona de Santa Catarina


   Segundo dia de férias. Até então, apenas mais um final de semana. Mas tinha tudo para ser diferente, a começar pelo local onde nos encontrávamos: Florianópolis. Não, não era mais um final de semana.

   Chegamos à ilha no sábado, já anoitinha. Uma fina chuva caía sobre nós, como que nos recebêssemos, tirasse qualquer impureza oriunda do continente. De alma lavada, ainda tínhamos muito a fazer antes de descansar para o grande dia.


   Check in no hotel, uma breve orientação e partimos para retirada do kit. Saio de Campinas e qual o primeiro lugar que entro em Floripa? Um shopping! Qual o nome? Iguatemi! Brincadeira... Loja Track & Field, prova da camisa, kit ok, jantamos por ali mesmo e voltamos para o hotel. Agora era esperar pela manhã de domingo.

   Acordei cedo, junto com os primeiros raios de luz do dia, que varavam as frestas da cortina e clareavam nosso quarto. Um bom banho quente para despertar o corpo, devidamente fardado, hora de tomar café. Chegando ao restaurante, me senti como se estivesse em um encontro de corredores. Todos com suas camisas de provas passadas, seus tênis das mais variadas marcas, reunidos ou sós, todos aguardando pelo mesmo momento. Até o grande Adriano Bastos deu o ar da graça. Simpático como sempre, ele que viria a conquistar o tricampeonato da prova, cumprimentava a todos que o saudavam. Tomei meu café e parti.

   Dia cinza, temperatura amena, condições perfeitas para correr. Ao descobrir que o percurso era plano então, parecia que estava diante de uma grande prova. Nos agrupamos junto ao pórtico e, ao sinal da organização, em meio a muitas saudadções, partimos todos.

   Começo animador. Com a previsão de 5'30" por quilômetro, fomos surpreendidos por uma subida já na largada, que desembocava em um túnel. Esse por sinal, seria visitado mais três vezes ao longo da prova. Corrida tranquila, tempo controlado, tudo sobre controle. Até que o vi. Me senti em um capítulo do desenho Caverna do Dragão, onde os adolescentes estão perdidos, cheios de dúvidas e, como que brotasse do chão, o Mestre dos Magos surge de trás de uma pedra para dizer a eles algo sem sentido algum. Com essa mesma magia, surgiu à minha frente Orival Andries Junior. Professor da FEF, dez vezes Ironman finisher, corria ali com sua esposa. Os cumprimentei e começamos a conversar. Estava eu pela primeira vez em Florianópolis, local onde ocorre o Ironman Brasil, correndo com alguém que passou por ali dez anos consecutivos. Assim que ele citou que estávamos correndo no percurso da bike, relevei meu planejamento de prova em prol de tamanho conhecimento.

   E foram muitas informações. Rotas do percurso, aclives sutis, ponto de apoio da prova, dicas e mais dicas. Estava fascinado com tudo aquilo. Caía ali realmente a ficha do que está por vir. Fomos juntos até o quilômetro 17. Eles pararam para suplementar e eu fui. Fim da aula, hora que retomar meu foco.

   Estava mais de seis minutos atrasado em relação ao planejado. Seria impossível reverter tamanha diferença. Me propus a tentar tirar segundos a cada quilômetro completado. Eram duas metas: abaixar meu tempo de 3h57' e não andar. Teria que jogar bem com as duas, pois se puxasse demais, quebraria. Se segurasse, não faria o tempo. Seria uma prova mais mental do que qualquer outra até então.

   Virei os 21 km para 2h02'. Estava 7 minutos acima do imaginado. Fazer os 3h51' seria impossível. Agora tinha que focar abaixar de 3h57' e, para isso, teria que correr a segunda perna da prova exatamente no tempo inicial: 5'30".
  
   Corri. A cada quilômetro via alguns segundos serem creditados em minha conta. Se continuasse assim, daria certo. No quilômetro 28 ganhei uma parceira. A Natália, que até então estava fanfarronando por Floripa, resolveu me acompanhar. O que era uma simples companhia, se tornou uma parceria fundamental. Pegava água, ditava o ritmo, tentava me manter focado, enfim, tudo que fosse necessário para conseguir chegar sem andar. Mas é complicado passar ao lado do pórtico de chegada e saber que ainda faltam 10 quilômetros, que existe um túnel a sua espera, que o retorne estará 7 quilômetros adiante... Haja cabeça.

   Tentei focar no reorno. Sabia que, uma vez apontando na última reta da prova, meu humor mudaria. Minha forma de pensar a corrida seria outra. Estava exausto, meu tornozelo me torturava desde o quilômetro 15, minha cabeça estava quase cedendo ao cansaço, tendendo a me fazer andar. "Hoje não!". Fomos. Natália puxando, pegando água, e eu correndo.

   Foi questão de tempo para chegarmos ao retorno. A partir dali sabia todo o percurso: subidas descidas, onde segurar, quando puxar. Animei. Dei o relógio para ela e fui só na pernada. Tinha que tirar do corpo. Nada iria adiantar ficar olhando o tempo passar em meu braço e não poder fazer nada. Levei assim até o quilômetro 41. Recuperei o relógio e vi que estava em cima com o tempo. Era apertar no último e teria cumprido meus objetivos. Mirei na nuca de um japonês (grande Milton!), o qual viemos disputando a prova toda, que a pouco gritara que seria a primeira prova dele sem ter cãibras e andar, e puxei. Era tudo ou nada. Passei-o já na saída do túnel e rumei para a chegada. 3h56'45". Apesar do meu desvio de conduta no início da prova, cumpri minhas metas.

   A Natália, que havia ficado para trás, disse que, ao me ver passar, o Miltão tentou puxar e sentiu a perna. Pensou em parar, mas foi amparado por ela. Reanimado, voltou a correr e concluiu sua prova (sem andar, mas ainda não foi sem cãibras!).

   Agora é curtir as férias. Descansar um pouco. Até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário