segunda-feira, 20 de junho de 2011

3:57´14"

O grande dia havia chegado. 19 de junho, dia da Maratona Internacional de SP. Após dez semanas voltadas apenas para a prova, já havia uma ansiedade horas antes da prova. Perguntas vão surgindo enquanto o tempo o conduz ao momento da largada. "Será que vai dar certo? Como estará o clima? Com que roupa correr? Como suplementar ao longo da prova?" Isso às vezes acaba condenando a noite de sono anterior ao evento.

Mas não seria dessa vez. Tudo havia sido feito com antecedência, planejado metodicamente. staríamos sujeitos apenas a fatores externos. Eles poderiam se tornar heróis ou vilões. Era esperar e ver o que aconteceria.

São Paulo vinha com um sequência muito grande de dias frios. Isso, para que planeja correr 42.195 metros, largando às 9 horas da manhã, faz toda a diferença. Seria muito mais agradável correr com 14, 15 graus do que encarar as traquinagens do Sol pelas ruas da torcidade. Doce ilusão! Já às 8 horas da manhã, suávamos apenas com o aquecimento. Estava decidido: a prova seria com muito Sol. Isso tornaria as coisas ainda mais difíceis, pois com um percurso massacrante, o calor aumentria ainda mais o grau de dificuldade. Mas não havia volta. Dada a largada, é hora de partir.

Optamos por não entrar no bolo antes da largada. Preferimos esperar largar e seguir o fluxo. 20 mil pessoas? Não há fluxo. Gastamos 18 minutos para fazer os primeiros 3 quilômetros. Não tinha como desenvolver a prova até ali. Fomos levados por um mar de gente, em um ritmo único. Só depois do quinto quilômetro foi possível estabelecer como seria a estratégia da prova.

Percurso massante, mas até o quilômetro 21 tudo sob controle. Nada com o que se preocupar, estávamos dentro do previsto. o atraso inicial já estava controlado. Porém começaria o grande desafio da prova: USP.

Não dá! O trecho que passa pela USP é, com certeza, o mais desgastante física e mentalmente. São trechos de longas retas, com idas e vindas, em aclives e declives. Você fica cruzando com outros corredores no sentido oposto, vendo placas de 3 quilômetros acima de onde se encontra, o que te leva a pensar o quanto falta para estar do outro lado. "Por que não, simplesmente, mudar de sentido?" Essa pergunta paira na mente durante osdez quilômetros universitários, mas como o desafio é pessoal, não se permite desvios de conduta. Todo o percurso é feito, com dor, cansaço, mas sem trapaças. Lá se foram 33 quilomêtros. Estamos livre da USP.

A partir daí tudo muda. Apesar do cansaço físico, o alívio de estar de volta à cidade motiva a continuar. Havia uma única meta: acabar abaixo de 4 horas. Estava muito cansado, as pernas já pediam sombra e água fresca, mas não podia ceder aos caprichos do momento. Fiz um pacto mental: intercalaríamos algumas caminhadas com a corrida. Administrando o tempo, talvez conseguíssemos atingir o objetivo proposto.

Os últimos 8 quilômetros são mortais. Já passamos de meio dia, o Sol castiga, não se vê muitas sombras pelo percurso e, pra ajudar, dois túneis antes da chegada. Àquela altura, adentrar na Terra não parece uma boa idéia. Surge uma sensação ruim, como se talvez não fosse ver o tão esperada luz no fim do túnel. "Força, estamos acabando".

Dois túneis, buracos escuros, úmidos, quentes e cheios de dor. Quem estava por ali já não se aguentava  mais. Aproveitavam aquele momento de isolamento, como que se escondessem da cidade, para gritar, liberar toda a dor contida e acumulada da corrida. muitos mancavam, outros se alongavam nas paredes, tentando soltar um pouco as pernas para chegar. Eu caminhava. Não ia gastar o pouco que me restava com subidas em túneis.

Quilômetro 40. Como eu esperei por essa placa. A partir dali adentraríamos em território Ibirapuerense. Estávamos próximos do fim, era para eles que havia guardado minha última dose de energia. Já não sabia se corria ou se estava a praticar marcha atlética. Diminui bem o passo para não forçar a musculatura. Sentia que, a qualquer momento, seria acometido por cãibras. Isso poderia ser o fim."Dois quilômetros e pronto".

E assim foi: pé ante pé, olhar fixo em busca do pórtico de chegada. Uma última curva à direita e lá estava ele. Uma última olhada no relógio e passos firmes para finalizar. Pronto, acabou! A galera aplaudindo a todos que ali chegam, fotógrafos tentando registrar cada momentos, como se soubessem que cada carredor, ao cruzar a linha de chegada, trazia consigo uma história de superação, um porque de tanta dor, e mereciam ter isso registrado. Parei o cronômetro e conferi meu tempo: 3 horas, 57 minutos e 14 segundos. Feito. Agora havia corrido minha primeira maratona abaixo de 4 horas. A organização ainda corrige o tempo, o que deve abaixá-lo. Para mim não importa, o que fica é o do relógio, aquele que me alertou a cada vez que pensei em reduzir, em parar, que me mostrou ser possível cumprir minha meta.

Agora é descansar um pouco e retomar os treinos rumo ao verdadeiro desafio disso tudo: Ironman 2012. Que venha abril, que venha planilhas e mais planilhas de treino, que venha Márcio Lazzari, estou pronto.

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