sábado, 19 de maio de 2012

Os Cavaleiros do Apocalipse



     Último treino na tão rodada estrada Campinas-Mogi. Não irei mais para aquelas bandas, nem antes e nem depois do Ironman. Acabou! Mas tínhamos que fazer bem feito, fechar com chave de ouro. Formamos então um pequeno grupo, quatro membros: André Nogueira, Murilo Barizon, Bruno Zouain e eu.

     Éramos pra sair às 7:30 horas, mas apenas Bruno e eu estávamos à postos no horário. Muru chegou um pouco depois e, bem depois, o Dedé deu o ar da graça. Atrasados sim, desanimados jamais. Montamos nossas magrelas e partimos para missão. O que era para ser um pedal tranquilo, se tornou algo indescritível. Já no primeiro metro de rodovia passávamos dos 45 km/h. Alucinante! Os quatro cavaleiros do apocalipse marchavam para cumprir sua missão.

    Muru, a Peste: conduzindo sua Felt branca, com um pedal conciso, formava a primeira fila do pelote. Um cara de sorriso fácil e um repertório sarcástico, nada passa impune aos seus olhos e ouvidos. Um singelo comentário, uma vacilada e pronto, ele não perdoa. Garantia de boas risadas, mesmo em momentos de extremo estresse e esforço.

     Zoin, a Guerra: com sua Guerciotti rubro negra, está sempre pronto para um desafio. Parece não haver limites intransponíveis. Seja na água ou em terra, a competição está presente e a palavra "derrota" não pertence ao seu vocabulário. Dotado de uma força descomunal, é capaz de fazer frente a qualquer um que cruzar seu caminho. Sua presença em um treino é certeza de muito sofrimento e exaustão.

     Dedé, a Fome: montado em sua Kestrel preta, uma vez iniciado o treino, só se tem a chance de conversar com ele mediante esforço extra. Encabeça o pelote e de lá não sai mais e, em hipótese alguma, é ultrapassado. Agraciado por uma formação muscular impressionante, atinge médias que muitos almejam e, sem o menor pudor, é capaz de te fazer comer poeira à menor de uma tentativa de ataque. Parece sentir prazer em enfrentar as forças da natureza, encarar o vento de frente. Para favorece-lo com o vácuo, apenas indo de moto!

      Thiago, a Morte (ou seria o morto?): pedalando um Quintana Roo cinza, tinha como treino apenas duas horas de ciclismo com qualidade, afinal estamos a uma semana do Ironman e em fase final de polimento. Porém, acompanhado pelos senhores acima citados, nada me restava a não ser tentar acompanhá-los enquanto conseguisse. Sabendo ser o mais fraco de todos, raramente subia à ponta, me mantendo na parte final da formação.

     Pois bem, e não foi só o primeiro metro que marcou uma grande velocidade. O segundo, o terceiro, o décimo... Íamos em um ritmo frenético, a ponto de nossas tentativas de sinalização se tornarem inúteis. Seria mais fácil termos setas, pois, quando mencionava-se estender o braço para informar a direção, já havíamos passado. Nas subidas (figuras constantes no percurso) o ritmo caía e atingíamos a insignificante marca de 27 km/h (na verdade eu atingia, pois a Fome não deve ter abaixado de 40km/h e os demais continuavam no encalço). Formação dois a dois, Bruno solta um "38 de média!". Estávamos quase em Holambra e uma média que, para mim, era comum em plano. Ficou uma certeza: "vai dar merda!".

     Seguimos, além do pontilhão de Holambra, por mais uns 15 quilômetros e então entramos no retorno. Pausa para aliviar as tensões, checar as provisões e, não havendo necessidade de pararmos em um posto, voltarmos direto para Campinas. Readentramos na rodovia e o ritmo foi reposto. Aproveitando o trecho plano que estávamos, me mantive perto do grupo. Então chegou a primeira subida e com ela meus problemas.

     Flertando entre a limitação física e os traumas psicológicos, o certo é que, do pontilhão de Holambra até o pedágio, sofro de uma forma descontrolada. É como se o sistema quebrasse, parasse de dar certo, pifasse. Sou incapaz de lembrar uma vez que fiz tal trecho de forma exemplar. Por que então hoje, com 38km/h de média, seria diferente?

     Não seria. Eles abriram uma distância considerável e, como se duelassem pelo primeiro lugar, focaram o olhar à frente e partiram. Sem ter o que fazer, mantive o ritmo que conseguia àquela altura, rezando para que a descida chegasse logo. Se tudo que sobe, desce, aquela era minha chance. Quase simbioticamente, encaixei-me à bike e tentei obter a melhor aerodinâmica, o que me possibilitou tirar um pouco da diferença.

     Porém mais uma subida surgiu e, com ela, outra em seguida, o que me fez perdê-los novamente. Já estava muito cansado, muito além do que precisava para o dia, preocupado com uma possível lesão como resultado de um esforço demasiado. "Colocar tudo a perder? Jamais!". Contive o ímpeto de alcançá-los e toquei de forma branda até o tal pedágio.

     Pronto. Com se saísse de uma bolha, um campo que estivesse a sugar minhas energias, senti meu corpo ressurgir, minhas pernas responderem aos estímulos, minha cabeça bloquear os maus pensamentos. Conseguiria, a partir dali, continuar com eles até o fim. E fomos por mais 9 quilômetros. Os outros três pareciam não ter treinado ainda. Continuavam a pedalar forte, conversando entre si e rasgando o asfalto. Eu me conformava em tentar acompanhá-los, em silêncio, pois era possível que, na tentativa de dizer algo, a energia despendida no ato me fizesse deixar de pedalar. Assim chegamos ao ponto de separação, eles para o Taquaral, eu para Barão. Nos despedimos e eu, reduzindo bruscamente o ritmo, toquei para casa. Fim do meu último treino de estrada rumo ao Ironman. Foi bom enquanto durou!

  

Um comentário:

  1. Tá demais esse aqui! muito bom:
    muru= sarcástico, não vacila que ele pimba!
    zoim= força descomunal, é um trator
    dedé= formação muscular?!?! vácuo só de moto!!!!
    thiago= 2 horas de quintana roo cinza antes do ironman é a morte mesmo!

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