Quarenta dias. Esse foi o tempo que restou entre o início do treinamento para o Ironman 2013 e a prova propriamente dita. Até aí tudo bem - ou pelo bem entendido. O que fazer com tão pouco tempo? Literalmente correr!! E pedalar e nadar. E muito! Treinos mais técnicos, fazes de polimento, tudo descartado. Agora era hora de rodar, rodar e rodar; ganhar volume, condicionar e tentar, com muuuita sorte, concluir o Iron.
E assim foram conduzidas as semanas. O volume aumentando, o corpo sentindo o tempo que ficou parado, a carga imposta, mas ainda resistindo bem, pois tínhamos algumas metas a serem batidas para, ao menos, tentar massagear a consciência e visualizar um pouco de conforto nessa insana empreitada. Queríamos os 150 km de bike e os 30 km de corrida. E eles vieram na mesma semana.
Mas houve um preço a pagar: o corpo cobrou e se sentiu no direito de entrar em greve. Brandava overtraining. Espera aí, overtraining? Para ser "over", primeiro tem que ter treinado. Em 20 dias só se tivessem sidos contínuos!! Ridículo!
Ridículo ou não, o certo é que tudo que tentava fazer ficava aquém do que deveria ser. E isso ia minando cada vez mais a motivação para continuar. Cansado de bater cabeça, optei fazer um day off na quarta (8/5) e recomeçar na quinta com uma corridinha (que veio a calhar). Sabadão seria dia do "longuinho" de pedal e corrida.
Apesar de ter ido dormir meio tarde, logo às 5:30 pulei da cama e comecei a arrumar a tralha: lanche, água, gel, bcaa, dá quase para fazer um pique-nique com tanta comida. Café da manhã, farda no corpo, tomei um dose de guaraná em pó e parti antes das 6 da matina. Hora de tentar reanimar a carcaça!
O friozinho matinal reina solitário em solo goiano, o vento formado com o deslocamento da bike machuca, mas olhar adiante ajuda a manter o movimento. Quase saindo da cidade, última subida (senhora subida!), vejo um maludo desceu uma avenida auxiliar, a qual desembocaria onde me encontrava. Reduzi um pouco para não atrapalha-lo, ele completou a curva, colou ao lado e, com um sorriso carregado de bons fluidos mandou um " e ae". Olhei para o lado e estava nada menos que Santiago Ascenço partindo para mais um dia de trabalho.
Por diversos motivos isso mexeu comigo. Primeiro por ter um atleta de ponta, o qual sempre vejo treinando no autódromo, ali tão cedo e tão cheio de energia. Me fez lembrar o por que de fazemos tudo e de uma frase muito sábia do mestre Donga: "sorriso no rosto sempre". Inadmissível seria estar ali se não com um prazer imenso, expresso em sorrisos e cumprimentos a todos que cruzassem o caminho. Segundo porque quando ele mandou o "e ae" e colou atrás, bateu uma responsa tão grande que nem lembrei que podia usar o volantinho para poupar a perna; saí pedalando forte ladeira acima para não fazer feio perto do "cara" do ciclismo no iron 2012. Quando vi já estava na estrada e nem sinal do Santiago que, sabiamente, não subiu que nem um louco e mais à frente me passou rumo ao autódromo.
Cheguei lá com a melhor média desde o início da preparação. Estava tão boa que nem zerei para tirar a média interna. Partiria dali e a subiria até o fim do treino. Começar com 25.3 não estava tão ruim. Agora era contar voltas!
Sozinho, nada de pelote, roda, vento na cara, tentava manter o ritmo forte. Sentia a perna querendo, a bicicleta pedindo, então era dar alegria às duas. Quando me pegava fazendo muita força, procurava transferir para uma cadência mais alta e automaticamente sentia um alívio nos membros inferiores. Fácil, estava no melhor dia de treino desse "longo" projeto. Primeira hora de treino concluída e 30 km percorridos. 30 km??? Façam as contas! Renderam as pernadas. Enquanto isso continuava a tomar voltas dos diversos grupos de ciclistas que rodavam por lá hoje (inclusive Santiago no meio do bolo). Contaminara a todos!!!
Segue o treino. Alternando algumas reduções de velocidade para alimentar e hidratar, tentava não perder a pegada. Nem um xixizinho rolou (isso sim é assustador!!). Duas horas e a marca de 60 km já habitava minha tela, mas a média ainda estava em 29.9. Já poderia retornar se quisesse e fazer minha transição, mas com esse número piscando quase como uma risada debochada, resolvi acabar o treino quando colocasse o 30 km/h na tela. Tinha medo que ela nem o reconhecesse, mas iria tentar! Comecei a puxar (mais!), pois não queria alongar muito e, por isso, precisava aumentar a velocidade rodada. Mais uma volta, descida, pernada na magrela e ele surgiu. Parou!!!!! Agora já poderia retornar, mas ainda queria mais!
Nova marca: sair de lá com 81 km, pois assim teria meus 90 km do dia e, pelo visto, em 3 horas. Já não tão intenso, mas mantendo o 29.9, completamos o metragem e retornamos para estrada.
E na estrada a conversa é outra. Ali a coisa complica, o acostamento é muito destruído, carros e caminhões passam muito perto, sujeira demais... além das subidas! Não tem jeito, perde-se velocidade. Mas ainda sim parecia que a coisa ia bem. Saímos do tumulto, retomamos o bom caminho até em casa e, forçando onde dava, a freada final foi dada aos 89.79 km e 3:01 horas de tempo. Nem com muita viagem esperava voltar a rodar no trintinha em tão pouco tempo. O "e ae" carregado deu um upgrade no dia e tornou "mais um treino" no treino. Por via das dúvidas, melhor tentar ganhar um desses no dia da prova! E que venha o iron!! Faltam 14 dias.
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