terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Como se fosse a primeira vez



     Ainda me lembro do meu primeiro dia de aula na até então 1º grau. Depois de uma infância inteira com a "tia" ao longo do ano, era hora de adentrar à 5ª série. Seis aulas por dia, professores diferentes e, para ajudar, o colégio era outro. Tudo era novo. E como dormir quando se está a poucas horas de penetrar em um espaço totalmente desconhecido após 6 anos de regalia e bom convívio? A ansiedade, o frio na barriga, são suas companheiras madrugada afora.E lá estava eu, ainda era noite (fim de horário de verão, seis da manhã ainda é noite), papéis na parede com os nomes dos alunos e suas respectivas turmas. Caíra na 5ª D, mas não fazia a menor ideia de onde encontraria tal sala em meio a mais de 25 salas. O certo era que, assim como eu, muitos estavam ali pela primeira vez e enfrentavam os mesmos problemas, tinham a mesma cara de dúvida. "Será que vai dar certo?" Sim, deu. Bons tempos...

     Pois bem, vinte anos depois pude reviver tal situação. Não teve cara de dúvida, nem papel colado na parede, mas saborear o frio na barriga, a expectativa de uma nova experiência, de adentrar uma nova turma, ser novamente aluno. Hoje era dia de começar minhas aulas de natação na ELO assessoria. Primeiro dia com o mestre Samir. A ideia era simples: logo às 6 da manhã estaria dentro d'água. Para isso deveria acordar 4:45 da manhã, tomar meu café, preparar meus lanches e sair de casa até às 5:30, pois ainda tinha um longo caminho a ser percorrido de bike. Dentro do previsto, parti.

     O galo ainda dormia quando parti. Era noite firme, mas estava em companhia de uma esplendorosa lua cheia que, após três fase de isolamento, parecia brilhar ainda mais forte. Iríamos juntos pelos próximos trinta minutos. Tudo muito tranquilo até ter que pegar a estrada. Trecho curto, mas se é complicado fazê-lo aos sábados, com luz, imagine no escuro. Terrível! Progredia sem enxergar um palmo à minha frente. Buraco, pedra, pedaço de pneu, o que tivesse pela estrada era atropelado. Luz era ou com os faróis no sentido contrário (que pioravam ainda mais minhas condições), ou quando um carro cruzava por mim. Aí sim a coisa ficava feia. Mesmo com uma lanterna sinalizadora na cabeça (que, em meio a tanto pânico, me fazia tê-la como um alvo), quando era bombardeado por um farol, me espremia (mais) no acostamento, pois não tinha certeza o quão longe de mim passariam. Dez minutos de puro terror, finalizados apenas ao pegar o acesso que me levaria à academia.

      Fim da jornada, apenas dois funcionários na academia e nada do professor. Comecei a me preocupar. "Será que vai atrasar?". Mesmo começando cedo, o tempo está no limite. Desci para piscina, fiquei a observar o lugar, a piscina nova, limpa, tratada com ozônio, coberta... estava bem! Pouco depois o Samir chegou e demos início ao trabalho. Piscinas e mais piscinas, muita informação, toques, exercícios. Ele me expunha a vários estímulos para me conhecer melhor e assim poder direcionar o treinamento. Enquanto isso o tempo corria no relógio e meus "novos colegas de classe" chegavam para o treino. Em meio a uma piscina e outra, na borda oposta, em meio a uma virada alta, me dei conta que a lateral do espaço que estávamos era de vidro e, bem ao fundo, o Sol nascia de uma forma quase poética. Foram poucos milésimos de segundo. Um click e a imagem estava registrada na memória. Peguei um pouco de ar dei sequências à série.

     Após 90 minutos de treino, finalizamos a sessão. Cansado, faminto, mas muito satisfeito com a nova parceria. Desde o começo no triathlon, era a primeira vez que tinha alguém ali, na borda da piscina, corrigindo, marcando tempo, dando toques. Ainda anestesiado pela bela vista, me despedi da pessoal, tomei um banho e parti. Ainda tinha a volta, de bike, para o trabalho. Sabia que iria pegar um trânsito ainda pior, pois estávamos próximos das 8 horas da manhã. Mas dificilmente alguém conseguiria estragar meu dia. Estava eufórico com minha escola, professor novo. Tinha dado tudo certo, sobrevivera aos novos contatos sociais, às novas experiências, tinha cumprido toda a carga do dia. Havia tocado o sino, como a vinte anos atrás, e era hora de correr para casa e contar as novidades. Aguardaria ansiosamente a hora de dormir, pois sabia que na manhã seguinte começaria tudo de novo. Hoje não será diferente. Já não vejo a hora de poder cerrar os olhos, me entregar ao sono profundo e escutar o soar do despertador antes mesmo do Sol nascer.  

     

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