sábado, 25 de fevereiro de 2012

Mudança de eixo


     Ainda lembro como tudo começou: tentar nadar 300 metros para participar de um duathlon. Separados por quase 30 anos, a piscina e eu não tínhamos tanta afinidade. Aliás, nenhuma. Eram séries de 25 metros e uma pausa na borda para tentar recuperar o fôlego antes de retornar. Com isso, criava-se o mito que o maior desafio sempre seria a natação. Ao me inscrever no Ironman, quase não conseguia ver a possibilidade de acabar os 3800 metros sem ser rebocado. Isso me assombrava a cada treino de piscina.

     Tempos que não voltam. Após um sólida preparação online com Marcinho, enfim fechamos a parceria com a Elo Consultoria e o ato de nadar tomou forma, ganhou conteúdo e passou a fazer parte do meu dia a dia. Acordar às 4:45 hs da manhã? Pedalar por meia hora, chovendo ou não, no breu da madrugada? Sem problemas, para treinar vem valendo à pena. Estamos com um volume de 3000 metros diários em pouco mais de uma hora de treino. Samir, sempre presente, tenta minuciosamente acertar os pontos falhos, limpar meu nada, buscando sempre tirar o peso e o esforço que carregava ao entrar na água.

     Pois bem, domingo passado fizemos um treino na represa de Nazaré e já me jogaram para os 3500 metros. Era metro que não acabava mais! A ideia de contornar a ilha então... Acho que até de barco deve-se demorar para cumprir todo o trajeto. Em meio ao medo de ser "roletado" por algum veículo náutico, conseguimos completar a travessia em 1:03. Perfeito! Parecia que estávamos no caminho certo. Mal tive tempo para recuperar o fôlego e já era informado que participaria de uma Maratona Aquática, nadando 4000 metros. Quando? No domingo seguinte. Estava sendo testado!

     Fomos ao Wet n´ Wild. Marcinho, mais uma vez muito solícito, me deu uma carona. Descobri que as horas que passo no carro com meu técnico são extremamente divertidas e, por que não, produtivas. Conversamos sobre tudo: esportes, viagens, música, filmes, o que nos espera pela frente... Bom de papo o senhor Márcio Lazari! Chegamos ao Wet e, após quatro horas de prova e espera, chegou minha hora de largar. Com uma hora de atraso e, em meio ao processo de confraternização dos atletas dentro d'água, soou a buzina. Com um cheiro de esgoto emanando do local, fechei os olhos e torci para que meu vermífugo estivesse em dia. Hora de trabalhar.

     Duas voltas em um percurso repleto de boias. Parecia que estávamos em uma piscina de bolinhas! Segurei atrás, por saber das minhas limitações, e assim conseguir nadar mais tranquilo. Fiz o primeiro contorno, o segundo e então tentei achar a terceira boia. Não achei! Olhei de nove e, como se fosse uma touca vermelha, visualizei o tal ponto. Putz, estava muuuuito longe!!!!! Sem forçar no ritmo, seguia sozinho, sem muita companhia. Não sabia se estava em último ou apenas em uma zona de transição. Na verdade pouco me importava, pois isso me permitia, mesmo fazendo mais força, nadar tranquilo.

     Chegamos ao terceiro ponto e, sem piedade, retorno o mesmo percurso para completar a primeira volta. Passei tranquilo pela marca, tomei meu tempo, mas não consultei. Queria apenas por curiosidade. Rumei para segunda, mas com uma nova estratégia: apertar o ritmo. Já conhecia o percurso, sabia a distância das boias e quanto de energia podia gastar ali. Variava entre um nado alongado e tranquilo e uma cadência maior de braçadas."Aumenta o giro, sem muita força". Lembrava do Samir puxando isso nos treinos, buscando elevar o tronco e assim tentava aplicar ali. Já menos traumatizado, fiz o contorna da terceira boia e abria grande e última reta.

     Quando se vê a margem de chegada, após um bom tempo vendo apenas cabeças coloridas de relance, boias de orientação e uma água suja à sua volta, sua perspectiva muda. Tudo que se quer é chegar. Apertei o ritmo, remava com força, em perder o encaixe. Puxei forte os últimos e metros e, ao sentir terra firme, parei meu cronômetro. Fique em pé, tirei o óculos e a touca e, mediante ajuda, me retirei da água. Impressionante como, ao ficar tanto tempo com o corpo na horizontal, a verticalização te deixa, literalmente fora dos eixos! A sensação é que havia passado por um processo de centrifugação. Estava meio tonto, as pernas meio moles, mas nada demais. Encaminhei-me para nossa tenda e então lembrei do tempo: 58:41. Aí sim! Caraca, menos de uma hora? Não havia deixado o ponteiro dos minutos completar a volta. Mesmo sabendo que não tinha 4000 metros, era um bom tempo.

      A galera da assessoria já se encontrava fora d'água. O Samir, que também havia nadado, tinha estimado 3700 metros de prova. Isso, em teoria, e com os treinos que estão por vir, me levam a concluir a etapa de natação do Iron em menos de uma hora. Nem nos dias mais otimistas havia contado com isso. Foi bom para o Samir, que viu seu trabalho já dando resultado em tão pouco tempo; bom para o Marcinho, que concluiu que temos um problema a menos para o dia da prova; e foi bom para mim, pois me deu um gás extra nessa etapa final de treinamento. Fez como que valorizasse cada madrugada que troquei meu sono tranquilo por um treino de natação. É colher os frutos que plantei? Sim, mas tenho que continuar a cuidar da plantação, pois o grande dia ainda está por vir.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Bloco do Eu Sozinho



     Sábado de Carnaval, dia ensolarado, um céu azul turquesa espalhava-se por todo o horizonte. Muitos curtiam esse dia na praia, "bebemorando", tomando banho de mar, outros se empoleiravam pelas cidades do interior do país, mas todos unidos pela grande festa que impede o ano de começar em janeiro.

     Pois bem, nem todos seguem tal caminho. Alguns trabalham, inclusive, no feriado. Outros aproveitam o recesso para acertar os afazeres, estudar e até descansar. O meu sábado estava garantido: 4 horas de pedal estrada afora. Sem choro, era sentar na bike e partir.

     Com uma rotina muito puxada ao longo da semana, me dei ao luxo de acordar mais tarde e, com isso, joguei o treino para o fim do dia. Descobri mais alguns seletos senhores que, por obrigação ou falta de opção, estavam em Campinas e também tinham rodagem a fazer. Tínhamos um grupo, um bloco por que não? O Bloco do Eu Sozinho. Alguns seres, abandonados em pleno feriado, se juntam e partem para pedalar. Eles, 70 quilômetros. Eu faria um pouco mais.

      Com o mesmo Sol que agraciava  àqueles no litoral, partimos. Com um bom ritmo, percorríamos um estrada não mais tão movimentada. Em meio a tantos aclives e declives, chegamos ao nosso retorno. Pouca água e a dúvida: beber ou jogar na cabeça? Tentava mediar a situação para não desperdiçar algo que poderia pôr fim ao treino mais para frente. Divididos em dois blocos, eu e Luizão voltamos à estaca zero, após percorrer 50 km em uma hora e meia. Realmente havíamos pedalado bem, mas ainda me restavam, contando com os 30 minutos de aquecimento, 2 horas a ser pedalado. Me despedi, inverti o sentido, reabasteci minhas caramanholas no Posto da Polícia Rodoviária e parti. Matemática pura: deveria refazer o trajeto para completar o volume planejado para o dia. Foi.

     Sozinho tudo é diferente. Seu cansaço resolve lhe fazer companhia por todo o percurso, pensando estar ajudando. Cada placa de retorno, surgida como um passe de mágica, parece um convite: "regresse para sua casa". Difícil conter a tentação, mas manter a cabeça no lugar é o grande desafio de toda a preparação. Se é provocado a cada esquina, a cada braçada, a cada gota de suor que escorre. Maus pensamentos bloqueados, seguimos em frente.

     Só não contava com a dor física. Após 3 horas de pedal, não conseguia mai pressionar o pedal. Um dor insuportável espalhava-se por toda a sola esquerda, como se fosse um simbiose. Tinha um ponto de origem, mas não perdoava o resto de mim. Aquilo estava realmente perturbando. Tinha que fazer algo. E rápido!

     Descalcei a sapatilha e, apenas apoiando sobre ela, continuei. Uma sensação de prazer tomou conta de mim. A dor havia sumido, o pé respirava agradavelmente e, de uma forma bem precária, continuei meu caminho.

     A água já estava acabando, a noite caía e eu ainda tinha alguns quilômetros antes de chegar em casa. Preferi não pegar mais água para não pedalar à noite. Era preferível racionar, não queria parar em lugar algum que não ao final. Já estava cansado, almejava um banho, algo gelado para tomar e, principalmente, a sensação de ter acabado.

     Nos últimos 10 km, já avistando a última curva do dia, o pé direito, invejoso que só ele, resolveu doer também. Dessa vez nem pestanejei, descalcei rapidamente a sapatilha e pronto, agora sim estava com cara de fim de pedal. Vivenciava ali o fim de uma etapa de ciclismo, encaminhando para a transição, mas ainda restava-me um pouco de chão.

     Descalço, sem dor e com o fim se aproximando, relaxei. A bike parecia saber que estávamos chegando. Não brigávamos mais, estávamos em sincronia. Juntos percorremos os últimos metros e, enfim, adentramos em casa. Pé no chão, frio e receptivo, os primeiros cuidados suplementares e pronto, o tão esperado prêmio: uma, apenas uma, long neck. Gelada, recém tirada do freezer, suava delicadamente, apenas me esperando para deliciar-te. Chegara a hora de, enfim, aproveitar, à minha maneira, meu sábado de Carnaval! 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Primeiro Ato



   Copa Interior de Triathlon. A primeira etapa a se realizar em Piracicaba, no formato short da modalidade (750m/20km/5km). Em uma conversa com o Marcinho (meu técnico), surgiu a pergunta: "Vai fazer?". Por ser muito curta, parecia não fazer muito sentido investir no evento poucos meses antes do Iron e disse que não. Ele, como se houvesse ensaiado tais palavras, em uma fração assustadora de segundos, veio com a proposta: " Eu te deixo no meio do caminho e você vai pedalando os últimos 50 km antes da prova". Pronto, algo tido como "pequeno" começa a ganhar tamanho. Não teve jeito, fiz a inscrição.

     Acertamos os últimos detalhes da viagem: sairíamos por volta de 5 horas da manhã e eu seria "despejado" 50 km antes do destino. Faria um percurso no escuro, mas logo estaria amanhecendo, certo? Errado! Seria verdade se tivéssemos saído na quarta ou quinta-feira anterior à prova, não no domingo. Sábado, após um longo período de estiagem e muuuito calor. choveu em Campinas. Choveu tanto que eu até desconsiderei o evento de domingo. Tinha certo que, com aquela chuva, não desceria do carro nem a base de pancada. Domingo, de madrugada e ainda sob chuva? Nunca! Passei boa parte do dia totalmente distante do assunto.

     Mas o dia se foi e, com ele, a chuva. O tempo parecia estar mais firme, o que me fez lembrar que estava apoucas horas de irmos para Piracicaba. Hora dos últimos ajustes. Montar a mochila, conferir todos os itens de prova, equipamentos, roupas pré, durante e pós competição, toalhas, suplementação alimentação e, por fim, a bike. E foi aí, bem no final, que a situação se complicou. Testando a bicicleta no rolo de treino, descobri que meu passador dianteiro estava desregulado e, com isso, não conseguia usar a coroa maior. Isso me obrigaria a fazer toda a prova, e o trecho de estrada, em coroa menor, como se estivesse passeando no parque. Seria impossível desenvolver um bom pedal. Comecei a suar frio, sem saber o que fazer. "E agora?". Hora de aprender eu mesmo a consertá-la.

     Pesquisa rápida na internet, alguns posts, vídeos de mecânicos da Shimano e já acreditava, ao menos, onde estava o defeito. Mas era como ter que desarmar uma bomba: "cortar o verde ou o vermelho?". Talvez conseguisse sim solucionar o problemas, mas, se cortasse o fio errado, inviabilizasse a bike para o dia da prova. Putz, respirei fundo e comecei a mexer. Solta um parafuso aqui, aperta um ali, puxa um cabo e pronto, estava feito. Já passava de meia noite, suando às bicas e com apenas quatro horas de sono pela frente, enfim consegui relaxar. Parecia que daria tudo certo no dia seguinte.

      Com quinze minutos de atraso (culpa do relógio que preferiu não acordá-lo numa manhã tão agradável para se dormir!), Marcinho passou em casa. Ainda tínhamos um tempo hábil e, por isso, ele tivera mais uma grande idéia: mudaria a rota e me deixaria no novo trecho da Rodovia Bandeirantes para conhecer a pista (local de futuros treinos) e de lá seguiria para Pira. Asfalto novo, um "tapete" para pedalar? Parecia lindo! Mas então erramos a entrada para a rodovia. Começava ali o domingo!

     Gastamos uns 20 minutos para conseguir, enfim, nos direcionarmos. Entramos na pista, passamos o pedágio e encostamos o carro. Descemos a bike, montamos, últimos ajustes, informações técnicas, itens de sobrevivência checados, ele partiu e eu fiquei. Comecei o pedal e, antes do primeiro quilômetro rodado, começou a garoar. Pelo amor, não havia caído uma gota desde às 4:30 da manhã. Parecia que estavam segurando, apenas aguardando que saísse do carro. Sem muitas opções segui meu caminho. Com a pista realmente maravilhosa para se pedalar e a bike funcionando bem, rapidamente acessei a Rodovia Luiz de Queiroz, trecho final antes da prova. Agora além de uma leve garoa, ainda tinha um acostamento terrível e sujo para me acompanhar. Não contente, logo à frente, descobri que meu passador voltará a dar problemas e que não teria a coroa grande até fim da viagem. Tentei apertar o ritmo, pois tentaria sanar o problema antes da prova, mas estava ficando sem tempo.

     Acabei por chegar às 8 horas no local da prova. A equipe já estava reunida, cheia de sorrisos maliciosos mediante meu aquecimento. O Marcinho já começou a numerar a bike enquanto em ajustava o passador. Restando 15 minutos para o fechamento, entrei na zona de transição para guardar meu equipamento. Feito isso, tomei um lanche e fomos para a largada.

     Dentro de uma lagoa, com uma água de qualidade duvidosa, partimos ao toque da corneta! Natação tranquila, auxiliado pela roupa de neoprene, rapidamente saímos da água e partimos pro ciclismo. A bike, recém reajustada, estava apenas na coroa grande. Fiz a primeira volta inteira sem diminuir, mas vi que seria impossível correr se completasse as três seguintes forçando tanto. Resolvi arriscar e diminuir a coroa. Não funcionava. Pronto, agora, além de não subir, não descia. De repente estava pedalando uma barra forte! Tentei detectar o que impedia o passador de descer e vi que esquecera minhas espátulas presas nele. Encostei a bike, retirei-as e parti. Feita a troca, as subidas se tornaram mais prazerosas, mas perdia na descida. Mas antes que completássemos a segunda volta, começou a chover. Com o asfalto bastante escorregadio, optei pela cautela, segurei o pedal e decidi concluir sem tombos.

     Mas nem todos pensaram da mesma forma. Alguns competidores estavam muito confiantes (ou insanos). Desciam em uma velocidade assustadora, passavam por lombadas como se não existissem e, se jogavam nas curvas como se não houvesse chovido. Pouco antes de uma curva fechada à esquerda, reduzi para virar e um competidor me ultrapassou. Deve ter sido para que eu assistisse de camarote, pois o ato seguinte foi a mais pura demonstração do que é "sair pela tangente". Ele passou direto, se esfolando pelo chão, bem embaixo da minha roda. Freei para não machucá-lo e ouvi outro grito. Um "ai" crescia atrás de mim e, junto dele, o barulho de metal se chocando com o chão. Senti a pancada na roda traseira. Nem olhei para trás. Me equilibrei e segui meu caminho. Últimos quilômetros, transição novamente, hora da diversão.

     Calcei o tênis e saí para corrida. Mesmo querendo soltar a perna, segurei o ritmo e, de forma bem conservadora, fui progredindo. Já conhecia o percurso, sabia da existência de uma ladeira loga à frente e, por isso, não queria me desgastar antes. Mas antes mesmo de encará-la, outro problema surgiu. Por estar sem meia, acabei ferindo um dos dedos e isso produzia um ardor insuportável. Tentava achar uma pisada que neutralizasse aquela sensação, mas cada tentativa, um erro. Ocupado em resolver tal imprevisto, passei pela subida, fiz o retorno e, administrando a dor, tentei segurar o ritmo até o fim. Já avistando o pórtico de chegada, não me dei ao trabalho de sprint final. Queria apenas terminar e tirar aquele tênis maldito.

     Fim! Ficamos esperando os outros membros da equipe chegarem e fomos retirar o equipamento na zona de transição. Mais chuva. Dessa vez um pouco mais forte. Em uma fila que parecia não andar, ficamos todos ali, de braços cruzados, com frio, mas sem ter o que fazer. Feito a retirada, e com uma trégua da chuva, roupa seca e limpa, fomos conferir o resultado. Não houve pódio para a equipe. Os melhores ficaram em sexto nas respectivas categorias. Com 1:18, fiquei em 12º da minha. Não foi grande coisa, mas, sabendo de todos os percalços, até que foi um bom negócio. Serviu para começarmos o ano de forma definitiva, sendo colocado à prova. O primeiro de muitos atos nessa que promete ser uma verdadeira odisseia.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Como se fosse a primeira vez



     Ainda me lembro do meu primeiro dia de aula na até então 1º grau. Depois de uma infância inteira com a "tia" ao longo do ano, era hora de adentrar à 5ª série. Seis aulas por dia, professores diferentes e, para ajudar, o colégio era outro. Tudo era novo. E como dormir quando se está a poucas horas de penetrar em um espaço totalmente desconhecido após 6 anos de regalia e bom convívio? A ansiedade, o frio na barriga, são suas companheiras madrugada afora.E lá estava eu, ainda era noite (fim de horário de verão, seis da manhã ainda é noite), papéis na parede com os nomes dos alunos e suas respectivas turmas. Caíra na 5ª D, mas não fazia a menor ideia de onde encontraria tal sala em meio a mais de 25 salas. O certo era que, assim como eu, muitos estavam ali pela primeira vez e enfrentavam os mesmos problemas, tinham a mesma cara de dúvida. "Será que vai dar certo?" Sim, deu. Bons tempos...

     Pois bem, vinte anos depois pude reviver tal situação. Não teve cara de dúvida, nem papel colado na parede, mas saborear o frio na barriga, a expectativa de uma nova experiência, de adentrar uma nova turma, ser novamente aluno. Hoje era dia de começar minhas aulas de natação na ELO assessoria. Primeiro dia com o mestre Samir. A ideia era simples: logo às 6 da manhã estaria dentro d'água. Para isso deveria acordar 4:45 da manhã, tomar meu café, preparar meus lanches e sair de casa até às 5:30, pois ainda tinha um longo caminho a ser percorrido de bike. Dentro do previsto, parti.

     O galo ainda dormia quando parti. Era noite firme, mas estava em companhia de uma esplendorosa lua cheia que, após três fase de isolamento, parecia brilhar ainda mais forte. Iríamos juntos pelos próximos trinta minutos. Tudo muito tranquilo até ter que pegar a estrada. Trecho curto, mas se é complicado fazê-lo aos sábados, com luz, imagine no escuro. Terrível! Progredia sem enxergar um palmo à minha frente. Buraco, pedra, pedaço de pneu, o que tivesse pela estrada era atropelado. Luz era ou com os faróis no sentido contrário (que pioravam ainda mais minhas condições), ou quando um carro cruzava por mim. Aí sim a coisa ficava feia. Mesmo com uma lanterna sinalizadora na cabeça (que, em meio a tanto pânico, me fazia tê-la como um alvo), quando era bombardeado por um farol, me espremia (mais) no acostamento, pois não tinha certeza o quão longe de mim passariam. Dez minutos de puro terror, finalizados apenas ao pegar o acesso que me levaria à academia.

      Fim da jornada, apenas dois funcionários na academia e nada do professor. Comecei a me preocupar. "Será que vai atrasar?". Mesmo começando cedo, o tempo está no limite. Desci para piscina, fiquei a observar o lugar, a piscina nova, limpa, tratada com ozônio, coberta... estava bem! Pouco depois o Samir chegou e demos início ao trabalho. Piscinas e mais piscinas, muita informação, toques, exercícios. Ele me expunha a vários estímulos para me conhecer melhor e assim poder direcionar o treinamento. Enquanto isso o tempo corria no relógio e meus "novos colegas de classe" chegavam para o treino. Em meio a uma piscina e outra, na borda oposta, em meio a uma virada alta, me dei conta que a lateral do espaço que estávamos era de vidro e, bem ao fundo, o Sol nascia de uma forma quase poética. Foram poucos milésimos de segundo. Um click e a imagem estava registrada na memória. Peguei um pouco de ar dei sequências à série.

     Após 90 minutos de treino, finalizamos a sessão. Cansado, faminto, mas muito satisfeito com a nova parceria. Desde o começo no triathlon, era a primeira vez que tinha alguém ali, na borda da piscina, corrigindo, marcando tempo, dando toques. Ainda anestesiado pela bela vista, me despedi da pessoal, tomei um banho e parti. Ainda tinha a volta, de bike, para o trabalho. Sabia que iria pegar um trânsito ainda pior, pois estávamos próximos das 8 horas da manhã. Mas dificilmente alguém conseguiria estragar meu dia. Estava eufórico com minha escola, professor novo. Tinha dado tudo certo, sobrevivera aos novos contatos sociais, às novas experiências, tinha cumprido toda a carga do dia. Havia tocado o sino, como a vinte anos atrás, e era hora de correr para casa e contar as novidades. Aguardaria ansiosamente a hora de dormir, pois sabia que na manhã seguinte começaria tudo de novo. Hoje não será diferente. Já não vejo a hora de poder cerrar os olhos, me entregar ao sono profundo e escutar o soar do despertador antes mesmo do Sol nascer.  

     

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Missão Impossível



      Ainda me lembro com se fosse ontem: começo alucinante, mensagem "se auto destruindo em 5 segundos" e uma música que arrepiava enquanto o pavio queimava. Tã, tã, tãtãtã... Demais! Ethan Hunt era o cara: se desdobrava para cumprir sua missão, mesmo com meio mundo querendo sua cabeça e sem poder em confiar em quase ninguém. Parecia ter sido treinado pelo MacGyver, tamanha a astúcia e genialidade mediante situações de perigo. Adrenalina do começo ao fim.

     Pois bem, não recebi nenhuma fita que pega fogo sozinha, nem tenho ninguém querendo minha me apagar (espero!), mas acabo de assumir alguns compromissos que me fazem parar e questionar o porque de apenas 24 horas em um dia. 

     Os treinamentos para o Ironman já ocupam um pequeno tempo durante a semana, mais as 8 horas diárias de trabalho, realmente achava que as horas restantes eram dignas de uma boa refeição e descanso. Achava. Resolvi retomar os estudos, enfiar a cara nos livros, pois tenho metas maiores do que uma conclusão de prova. Não desmerecendo a Iron, mas preciso de estabilidade e, para isso, se faz necessário entrar em um bom concurso. Para isso pelo menos 4 horas de estudo diárias. e estava conseguindo cumprir à risca. Até quarta.

     Há muito venho negociando uma parceria. Já falei por aqui das imperfeições do meu nado. Meus treinos são de planilha, sem técnico de borda, sem correções imediatas, apenas ganho de resistência. Era o que podíamos fazer. Mas não é mais! Quarta-feira me encontrei com o Samir, sócio-fundador de uma assessoria de natação que, coincidentemente, chama-se Elo. Esse é justamente o seu papel: unir todas as peças para obtermos um bom resultado. Com o perdão do trocadilho, era o elo que nos faltava! Mas nada é tão fácil assim. Treinarei às 6 horas da manhã, perto do Alphaville. O que isso significa? Que acordarei às 5 horas da manhã, sairei de casa 5:30 para estar lá no horário. Meu Deus...

     Comecei o período adaptativo. Acordar a essa hora é, com certeza, digno de treino. Convencer o corpo a deixar para trás o conforto de uma cama aconchegante tão cedo, quando a Lua ainda está alta no céu e até o galo dorme, é realmente um ato brutal. Mas tudo bem, é um mal necessário.

     O problema disso tudo é que as outras coisas não param, ou seja, os outros treinos continuam, o trabalho também e a meta das 4 horas de estudo também. Estou com apenas dois dias de adaptação e já pago o preço: corpo e mente me cobram descanso. Nos estudos não consigo focar, a cabeça está cansada, difícil de raciocinar. Nos treinos menores o cansaço se faz presente, mas todos são concluídos. Agora nos longos de final de semana....Pela segunda semana consecutiva sinto na pele o peso do cansaço. O corpo parece desenergizado, sem vida, suplica por cama, uma boa massagem, mesmo exposto a estímulos muito intensos.

     Depois de 3 horas de pedal, é chegada a hora da corrida. Sob um calor escaldante, fica fácil sentir a pele arder, o suor evaporar antes mesmo de iniciar um trajeto pelo corpo. O Sol castigava, as pernas pareciam não conseguir mais manter o ritmo e, mesmo tentando animá-las com água fresca e sombra, parecia impossível prosseguir. Um treino de 15 km foi abortado na metade e passos curtos e lentos foram os responsáveis por n os trazer até em casa.

     Agora se faz necessário aprender a distribuir melhor todas as atividades ao longo do dia. Não, nada será cortado. Seguirei com todas as atividades até o fim. Basta repensar tudo, encaixar cada coisa em seu lugar e aproveitá-las ao máximo. São 24 horas, por que não seria possível aproveitá-las de uma forma mais dinâmica? O Jack Bauer fazia tanta coisa no mesmo tempo, por que não eu? Por falar nisso, é hora de dormir. Até!