Ainda lembro como tudo começou: tentar nadar 300 metros para participar de um duathlon. Separados por quase 30 anos, a piscina e eu não tínhamos tanta afinidade. Aliás, nenhuma. Eram séries de 25 metros e uma pausa na borda para tentar recuperar o fôlego antes de retornar. Com isso, criava-se o mito que o maior desafio sempre seria a natação. Ao me inscrever no Ironman, quase não conseguia ver a possibilidade de acabar os 3800 metros sem ser rebocado. Isso me assombrava a cada treino de piscina.
Tempos que não voltam. Após um sólida preparação online com Marcinho, enfim fechamos a parceria com a Elo Consultoria e o ato de nadar tomou forma, ganhou conteúdo e passou a fazer parte do meu dia a dia. Acordar às 4:45 hs da manhã? Pedalar por meia hora, chovendo ou não, no breu da madrugada? Sem problemas, para treinar vem valendo à pena. Estamos com um volume de 3000 metros diários em pouco mais de uma hora de treino. Samir, sempre presente, tenta minuciosamente acertar os pontos falhos, limpar meu nada, buscando sempre tirar o peso e o esforço que carregava ao entrar na água.
Pois bem, domingo passado fizemos um treino na represa de Nazaré e já me jogaram para os 3500 metros. Era metro que não acabava mais! A ideia de contornar a ilha então... Acho que até de barco deve-se demorar para cumprir todo o trajeto. Em meio ao medo de ser "roletado" por algum veículo náutico, conseguimos completar a travessia em 1:03. Perfeito! Parecia que estávamos no caminho certo. Mal tive tempo para recuperar o fôlego e já era informado que participaria de uma Maratona Aquática, nadando 4000 metros. Quando? No domingo seguinte. Estava sendo testado!
Fomos ao Wet n´ Wild. Marcinho, mais uma vez muito solícito, me deu uma carona. Descobri que as horas que passo no carro com meu técnico são extremamente divertidas e, por que não, produtivas. Conversamos sobre tudo: esportes, viagens, música, filmes, o que nos espera pela frente... Bom de papo o senhor Márcio Lazari! Chegamos ao Wet e, após quatro horas de prova e espera, chegou minha hora de largar. Com uma hora de atraso e, em meio ao processo de confraternização dos atletas dentro d'água, soou a buzina. Com um cheiro de esgoto emanando do local, fechei os olhos e torci para que meu vermífugo estivesse em dia. Hora de trabalhar.
Duas voltas em um percurso repleto de boias. Parecia que estávamos em uma piscina de bolinhas! Segurei atrás, por saber das minhas limitações, e assim conseguir nadar mais tranquilo. Fiz o primeiro contorno, o segundo e então tentei achar a terceira boia. Não achei! Olhei de nove e, como se fosse uma touca vermelha, visualizei o tal ponto. Putz, estava muuuuito longe!!!!! Sem forçar no ritmo, seguia sozinho, sem muita companhia. Não sabia se estava em último ou apenas em uma zona de transição. Na verdade pouco me importava, pois isso me permitia, mesmo fazendo mais força, nadar tranquilo.
Chegamos ao terceiro ponto e, sem piedade, retorno o mesmo percurso para completar a primeira volta. Passei tranquilo pela marca, tomei meu tempo, mas não consultei. Queria apenas por curiosidade. Rumei para segunda, mas com uma nova estratégia: apertar o ritmo. Já conhecia o percurso, sabia a distância das boias e quanto de energia podia gastar ali. Variava entre um nado alongado e tranquilo e uma cadência maior de braçadas."Aumenta o giro, sem muita força". Lembrava do Samir puxando isso nos treinos, buscando elevar o tronco e assim tentava aplicar ali. Já menos traumatizado, fiz o contorna da terceira boia e abria grande e última reta.
Quando se vê a margem de chegada, após um bom tempo vendo apenas cabeças coloridas de relance, boias de orientação e uma água suja à sua volta, sua perspectiva muda. Tudo que se quer é chegar. Apertei o ritmo, remava com força, em perder o encaixe. Puxei forte os últimos e metros e, ao sentir terra firme, parei meu cronômetro. Fique em pé, tirei o óculos e a touca e, mediante ajuda, me retirei da água. Impressionante como, ao ficar tanto tempo com o corpo na horizontal, a verticalização te deixa, literalmente fora dos eixos! A sensação é que havia passado por um processo de centrifugação. Estava meio tonto, as pernas meio moles, mas nada demais. Encaminhei-me para nossa tenda e então lembrei do tempo: 58:41. Aí sim! Caraca, menos de uma hora? Não havia deixado o ponteiro dos minutos completar a volta. Mesmo sabendo que não tinha 4000 metros, era um bom tempo.
A galera da assessoria já se encontrava fora d'água. O Samir, que também havia nadado, tinha estimado 3700 metros de prova. Isso, em teoria, e com os treinos que estão por vir, me levam a concluir a etapa de natação do Iron em menos de uma hora. Nem nos dias mais otimistas havia contado com isso. Foi bom para o Samir, que viu seu trabalho já dando resultado em tão pouco tempo; bom para o Marcinho, que concluiu que temos um problema a menos para o dia da prova; e foi bom para mim, pois me deu um gás extra nessa etapa final de treinamento. Fez como que valorizasse cada madrugada que troquei meu sono tranquilo por um treino de natação. É colher os frutos que plantei? Sim, mas tenho que continuar a cuidar da plantação, pois o grande dia ainda está por vir.