quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Néctar dos Deuses



     Cresci achando que Kibon era o melhor sorvete do mundo. Durante muitos anos me deliciei entre os Tablitos, Eskibons, o sorvete de passas ao rum... mas nada melhor que o tempo para nos ensinar! Já na casa dos 25 anos me foi apresentado aquele que, já na primeira prova, tomaria conta dos meus sentidos e da minha memória. Em uma pequena sorveteria do interior paulista, sob um Sol de 40º, foi onde tudo começou.

     Contrastando um branco nata, detentor de uma pureza única, com um vermelho bordô extremamente carregado, ele se fazia notar em meio a tantos outros ali presentes. Era inevitável não perguntar seu sabor. E antes de responder tal pergunta, já era servido com uma pequena prova. Pronto, já não tinha mais volta. Como se dançasse sobre a superfície de minha língua, aquela pequena quantidade de sorvete ia brincando com minhas papilas gustativas, me fazendo experimentar alternâncias de sabores. O doce e o azedo se confundiam e, ao mesmo tempo, marcavam suas notas. Não havia palavras para descrevê-lo. Bastava-me pedir uma bela porção do mesmo e me deliciar.

     Mas como um amor de verão, nosso encontro ocorrera em uma cidade distante. Não poderia tê-lo sempre. Deveria conviver com as memórias, com a saudade. Vez em quando viaja para tomar mais um pouco. Ficava ali, no banco da praça, aproveitando cada momento como se fosse o último. Parecia que conseguíamos parar o tempo. Bons momentos...

    Os anos se passaram, as visitas foram reduzidas, e, mesmo sabendo que havia encontrado o que há de melhor, já não dava tanta importância. Sempre que passava por lá, tomava um pouco, mas não almejava com afinco o retorno. Havia deixado cair na mesmice, mesmo sendo único, era apenas mais um. Isso fez que nos afastássemos cada vez mais e, quando me dei conta, já era tarde.

     Hoje rodo por aí experimentando novos sabores, realmente deliciosos, especiais à sua maneira, mas não é a mesma coisa. Hoje não tenho mais contato, não sei seu paradeiro, nada. Será que ainda está lá, em frente à praça, em destaque, cercado de tantos outros potes como seu fosse uma Majestade, com súditos ao redor? Não sei. Ainda tenho aquele sabor guardado na memória. Com certeza não há igual. Será que nos afastamos para sempre ou é apenas uma armadilha do destino? Ainda volto a te encontrar. Oh sorvete de amarena, faz-me falta...

      
      

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