Não havia como ser diferente: fim de tarde na beira da piscina, por do Sol de plano de fundo, muita gente bonita reunida, drink de abacaxi e colar havaiano para recepcionar quem ali chegava. Neste clima de luau, um a um, atletas e acompanhantes, iam chegando para o terceiro Duathlon Contra Relógio da Unicamp. Muita gente conhecida, velhos amigos, aproveitando o momento para colocar a conversa em dia e confraternizar com aqueles que há muito não se via.
Mas não se pode esquecer do foco de tudo isso: a prova em si. Todos organizando suas zonas de transição, piscina liberada para o aquecimento, hora de soltar um pouquinho antes de fazer valer. Preferi não cair na água antes do tempo, pois ventava muito e não queria ficar a bater queixo nos próximos trinta minutos. Atletas reunidos para as últimas informações, balizamento (largada a cada 30 segundos) e, exatamente às 19:30 hs, o primeiro silvo foi ouvido. Começava ali a prova!
Em 29º, ainda restava algum tempo antes de chegar minha vez. Preocupado com o ombro, recentemente lesionado e ainda muito dolorido, não sabia o que esperar. Era tudo ou nada, faria o de sempre e, uma vez fora d'água, estaria em casa.
Liberado para sair, golfinhei algumas vezes e, quase que implorando para não luxar o ombro, comecei a nadar. "São só só 300 metros, não precisa derrubá-lo agora!". Quem dera fosse fácil assim. Mas senti que, talvez por conta da dose cavalar de anti inflamatório que havia ingerido ou por estar bem mesmo, conseguiria encaixar a braçada e rodar sem problemas. Nadei bem, solto, nada como um ano de treino. Sem saber meu tempo ao certo, saí da piscina e corri para a transição. Show time!
Me lembro do tempo que gastei ano passado amarrando o bendito tênis. Meu Deus... Ainda bem que conheci o tal do cadarço elástico! Em segundos estava calçado e partindo para pista. Ali sabia, não haveria fator limitador. Era tudo ou nada. Correr ao máximo, até que acabasse. Tinha uma meta: bater os 15:20 do ano passado. Seria fácil, pois estou bem mais condicionado, mas nem por isso levei menos à sério. Sem exitar, abri minha primeira volta.
Corria leve, mesmo que ainda recuperando o fôlego da natação, encaixei um bom ritmo e marchei. Tinha dois referênciais: um competidor (Felipe), que havia largado duas posições atrás de mim e tem uma corrida sólida, e um monstro sagrado chamado Jonas. Esse eu só queria saber em qual volta seria ultrapassado. Dependendo de qual, estaria bem na prova!!
Completei a primeira volta e avistei o Felipe. Estava 200 metros atrás. Era isso, deveria "cozinhá-lo" ali. Se o perdesse daquele referencial, estaria abaixo do pace. E assim fomos. Duas voltas, tês, até que, após abrir a quarta volta, começo a ouvir um barulho ritmado. Soava como um relógio, constante, espaçado. Tic, tac, tic, tac... Não tive dúvidas, gritei: "Bora Jonas!!". Ainda bem que encurtei a frase, pois se tivesse tentado falar da forma correta, não teria completado à tempo. O rapaz passou com se aqueles fosse os últimos 2000 metros de sua vida. Restou a mim seguir se rastro.
Fechei a quarta volta, puxei o que deu na quinta e última, abri para sair da pista e rumar para o pórtico de chegada. E aí, como que se alguém me estendesse um doce e se afastasse de mim tentando-me, avistei o outro Felipe. Parceiro de treino e a pessoa que vai passar mais tempo comigo no meu aniversário (amanhã tem um pedal gigante ao invés de bolo!!), estava começando a subir a rampa. Foi como se tivesse acabado de sair para correr. Mirei na nuca dele e parti! A essa altura até o Jonas ficaria orgulhoso! Corri, corri, corri e consegui sair na foto!! Passamos juntos a linha de chegada (Sim Felipe, o pórtico era um pouquinho mais para frente!!!). Já noite, acabara a prova. Coco gelado, alguns "parabéns" e hora de aguardar o resultado final.
Premiação só geral. Ali não tem essa de categoria. Ganhou, ganhou de todos! Não almejava ficar entre os cinco. Tranquilo! Chamaram as meninas, os homens. O vencedor mandou um 12 alto de tempo. O resto por volta de 13 minutos. Encerraram a cerimônia e liberaram o tempo de todos no mural.
Como estou sem relógio (falecido em Pirassununga), não tinha a menor idéia de quanto tinha feito. Corri para dar uma conferida. O Jonas, quinto geral, tinha feito 13'42". Dois rapazes, empatados em 6º, 13'43". /e depois, com 13'59", o Felipe (o mesmo que usei como referencial) e eu dividíamos a 7ª posição. Esperava um 14 baixo, mas 13 minutos jamais. Bom demais!
Parece que, aos 48 minutos do segundo tempo, as coisas começam a dar certo novamente. Seria o fim do tal "inferno astral" ou apenas colhendo os frutos de um ano de trabalho? Isso as outras situações da vida me dirão. Por hora, fechamos o primeiro ano de envolvimento com esse esporte maravilhoso, que entorpece e faz querer cada vez mais, com chave de ouro. Agora é voltar o foco para ele, sim, aquele que me aguarda, que acena para mim lááááá na frente, com um sorriso sarcástico, como se soubesse o que me espera. E ele sabe. Não é à toa que o chamam de Ironman.
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