Ano novo, vida nova. Para muito essa frase só faz sentido dia 1 de janeiro. Tem que ter queima de fogos, pular ondinhas, comer e beber de monte...Não comigo! Oportunidade melhor que meu aniversário não há. Mudou o número na casa das unidades, tem que repensar a vida, rever conceitos e ações. E, em um mês repleto de situações inesperadas, por que não comemorar meus 31 anos fazendo algo novo?
A idéia era simples: pedalar 180 quilômetros! Iria olhar para frente, sem me preocupar com o que ficasse para trás, aproveitando cada metro rodado, mas nunca almejando o retorno a ele, até que meu ciclocomputador marcasse 90 km. Mudaria de mão e voltaria para casa. Com isso, além de colocar minha cabeça no lugar, conheceria a distância que terei pela frente em maio. Parceiros? Nenhum. O Felipe animou fazer os primeiros 30 km, mas dali para frente estaria por conta própria. Muito tempo para pensar na vida!!!
Saímos Às 7 horas da Unicamp. Rumamos em direção à rodovia de Mogi e, em menos de trinta minutos, estávamos rumando para Holambra. Zerei o ciclo, pois queria saber meu rendimento na estrada. Sem muita pressa, fomos ganhando a estrada e, como num piscar de olhos, chegamos à Holambra. Essa primeira parte passa muito rápido, pois o dia ainda amanhece, o calor não é tanto e o corpo ainda esbanja vigor. Tempo que não volta... O Felipe fez o retorno e eu segui em frente. Conhecia meu caminho pelos próximos 20 km. Daí para frente, sem referencial. Na verdade, não sabia nem para onde iria. Perfeito!
Rodei, rodei e logo ultrapassei minha zona de conforto. Continuei pedalando e, de repente, avistei uma placa. Aguaí. Nunca ouvi falar! A distância correspondia ao quanto pretendia fazer. Segui. Porém, logo à frente, uma bifurcação surgiu. à esquerda Ribeirão Preto. Com certeza não era para lá que gostaria de rumar. Fiquei na direita mesmo e fui. A essa altura já estava com mais de 60 km rodados, ou seja, ainda tinha quase uma hora pela frente. Mas já não estava sozinho. O Sol, que pareceu ter acordado um pouco mais tarde hoje, desceu com tudo sobre mim. É, subimos o nível da brincadeira.
Com 70 quilômetros a primeira placa na nova rota. Andradas. Pelo amor, isso eu sei onde fica: Minas Gerais. E o pior era que, pela distância, não ficaria muito longe do meu retorno. Iria romper o limite de São Paulo? Via que exagerara na dose. Já com pouca água e sofrendo para percorrer todas as pirambeiras oferecidas pela rodovia, clamava por uma visão, uma miragem, um posto que fosse. Não via-se postos na beira da estrada. Iria eu, em pleno aniversário, esturricar sozinho? E indo para Andradas? Jamais...
Com 82 km de estrada e quase noventa total, apareceu, enfim, um posto. Apesar da precariedade do lugar, não tive dúvidas: entrei como se fosse o paraíso. Enchi minhas caramanholas, lavei o rosto, xixi de leve (mais de três horas sem urinar? Foi como um parto!) e, quase babando de tanto desejo, pedi uma coca gelada. Abri. O barulho soou como música aos meus ouvidos. Um gole demorado, gostoso. Desceu gelado, resfriando um corpo que há muito vinha sendo castigado pelo astro maior. Isso é trabalhar o psicológico! Voltei para estrada renovado. Hora de acabar minha "ida!"
Mais alguns quilômetros e avistei que teria uma descia gigantesca, seguida de um morro. Claro que a descida gigantesca viraria-se contra mim e se tornaria um subida sem fim. Olhei com quantos quilômetros estava. 86,5km total. Já estava desgastado. Achei pertinente retornar ali, antes de descer. Não seriam 180 de estrada, mas rodaria um pouco mais no total.
Apontando a bike em direção a Campinas, a cabeça trabalha de outra forma. Agora não espero mais pelo desconhecido. Teria que administrar meu retorno, dividindo minhas forças, já bem fragilizadas, até o ponto final. Eram 10:06 da manhã. Mais três horas e pronto.
86 quilômetros longe de casa, cansado e com muito calor. Só pedia para não ter nenhum pneu furado. Já estava no nível hard, não precisava apelar! Minha água era jogada na cabeça e, as gotas que passavam pelo canto da boca eram, sorrateiramente, abduzidas. Assim combatia o calor e matava a sede!
Quando atingi a marca dos 100 km, estava voltando para o rodovia de Mogi, meu território. Bom, dali já dava para ter uma noção de como chegaria em casa. E as previsões não eram muito animadoras. Via minha água acabar, as pernas já não rendiam tanto. Nem o recurso do clip, muuuuito boa aquisição diga-se de passagem, me faziam progredir de forma constante.Aproveitava os planos e as descidas para tirar o máximo clipado, pois sabia que nas subidas estava a me arrastar.
Sem água, com 120 km rodados, avistei um posto da Polícia Rodoviária e não hesitei: atravessei a pista, encostei a bike e pedi por água. Devia estar com uma aparência horrível, pois o guarda rapidamente me mostrou o filtro e me deu passe livre. Coloquei o cantil e, ao sentir a água preencher o recipiente, notei uma queda de temperatura nas áreas de contato. Era uma água fresquinha, gelada... nossa, pensei em ficar por ali e pedir uma carona. Mas rapidamente me recompus, enchi as garrafas e parti. Estava muito próximo. Queria apenas passar pelo trevo de Holambra e estaria por menos de uma hora. E o trevo veio. Tinha 50 minutos para percorrer um pouco mais de 25 quilômetro. Nada é fácil quando já se tem 150 quilômetros piscando no visor.
Mantive a estratégia: puxar na descida e conter nas subidas. Passou AMBEV, Red Eventos, Motorola e, enfim, o tão esperado pedágio. Agora era uma boa descida, uma pequena subida e minha entrada para o Guará. Já sem muito gás, passei pelo posto policial e avistei onde entraria. Não sabia por onde passaria no retorno, apenas que não teria o paredão do CPQD pela frente. Antes de virar, consultei o quanto havia rodado. Em exatamente 6 horas, tinha rodado170,12 km. Na hora vi que, em um percurso mais plano, faria os 180 km. Só não me via descendo da bike e partindo para correr uma Maratona. Ainda!
Adentrei por estradas até então desconhecidas. Realmente estava afim de desbravar. Mas já não era mais tão engraçado. Queria saber por onde rodava, quanto faltava, se teria subidas e, por fim, quando acabaria. De nada adiantava meu querer. Tomava um rumo que, ao meu ver, parecia não estar muito correto. Pedi uma, duas informações e todas confirmavam aquele caminho. Então continuem e, após um looonga e tão esperada curva acentuada à esquerda, me vi direcionado. Sabia onde estava. Agora fazia sentido. Mais alguns quilômetros e pronto.
Quase sem querer fiz minha última subida, minha última curva à direita, ancorei na casa do Jorge Coli (sim, ainda tinha marcado uma aula no retorno!!), entrei sem muito conversar, liguei uma ducha gelada (tão gelada quanto eu, normalmente, odiaria ter como opção) e fiquei ali, parado, deixando que meu corpo esfriasse. Tinha acabado. Melhor, tinha percorrido meus assustadores 180 quilômetros. Vivenciara as tão assombrosas "6 horas de pedal". Agradeci muito por não ter que correr. Aliás, por não ter nem que andar!!! Já eram quase 14 horas e tinha aproveitado boa parte do meu dia fazendo o que, ultimamente, me completa. Abdicara, momentaneamente, de dormir, comer tranqueiras, bebericar, para obter conhecimento. O que fazer nas dez horas que me restam? Ah, agora é preencher o tempo com uma boa tarde de sono, regada a muita tranqueira e uma cervejinha gelada de presente (vai, eu mereço?).
Parabéns..... 42 km depois é fácil rs
ResponderExcluirAbs
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPqp, [por mais senso comum que seja, tenho que dizer] cansei só de ler o relato. E olhe que parei no meio para pesquisar o que seria um "clip".
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