COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ
Encarar essa imensa demarcação em
branco e não saber como proceder é assustador. Cria-se uma
atmosfera de suspense, como se estivesse sendo observado por milhões que,
ansiosamente, aguardam um desfecho, um último ato, algo que os permita, enfim,
relaxar os músculos da face que a muito contraem-se em total estado de alerta.
Foi-se o tempo que, com a simplicidade de uma criança, postava-me à frente do
computador e, como se estivesse a conversar com amigos, discorria sobre
treinos, o acaso, pensamentos utópicos, treinos, treinos...
Irônico ver tamanho constrangimento em
digitar poucas palavras, quase sem saber como o fazer, refém de um total
destreino com o hábito da escrita, justamente quando retomo a funcionalidade do
blog para, pasmem, confirmar o retorno aos treinos, à rotina louca que me
preencheu por um longo e delicioso semestre, deixado de lado por uma
causa maior, mas que agora consigo trazê-la de volta. Sim, a partir de amanhã
(20.12) retornamos aos treinos rumo ao Ironman 2013.
Durante meu período de aulas evitava
fazer atividade física. Muitos discorriam sobre a importância da atividade
física para espairecer, de um momento de relaxamento fora do ambiente de
estudo, que uma caminhada era bem vinda. Limitava-me a dispensar a proposta.
Como explicar que, quando saía para correr, já partia pensando quando seria o
próximo treino, onde faria o treino de bike, em qual piscina conseguiria nadar, quanto tempo teria da data da prova até o Iron, se
conseguiria me preparar direito para as duas provas... Não cabia tentar
descrever o desespero que escondia sob pilhas de livros e horas de estudo.
Impossível sair para “fazer uma caminhada” quando se está inscrito para um IM e
totalmente comprometido com os estudos.
Prometi que, assim que acabassem as
aulas, reorganizaria meus horários e saberia se o Ironman 2013 era uma
realidade ou um sonho distante. Terminadas ontem, hoje já havia conseguido
autorização para treinar no Parque Aquático de Goiânia. Tinha agora 9 horas de
estudo a serem conciliadas com uma planilha de treino. Loucura? Lembrei-me
de todos os dias que levantava às 4 horas da manhã para nadar, pegava a
rodovia Dom Pedro de bicicleta e, ao chegar na Clip sabia que ganhara mais que se
tivesse optado por ficar dormindo. Trabalhava 8 horas, dava personal, fazia minha
segunda sessão de treino e ainda tinha tempo de sobra. Pensei nas horas eternas
de pedal pela Campinas-Mogi, bem acompanhado, sozinho, frio, vento, chuva,
Sol... Busquei relatos de tantos outros que acordam ainda mais cedo, fazem seus
treinos para conseguir tomar com a família, trabalham normalmente e ainda se
destacam no esporte. Não me parecia absurdo!
Tentei unir a experiência do triatlon
com as da minha atual realidade: ciclos de estudo diários de 8 a 10 horas,
abdicação da vida social, restrição aos prazeres mundanos, privações
momentâneas para colher frutos no futuro. Percebi que cada uma dessas “tribos”,
se ouvisse os relatos da outra, se espantaria, acharia um exagero pedalar 180
km ou deixar de sair por meses, talvez não se vissem na pele do outro.
Vejo “100%” nas ações de ambos os lados, é transpiração pura, é uma luta
constante contra as fraquezas da carne, as inúmeras vontades de jogar a
bicicleta na beira da estrada e pegar uma carona, de queimar os livros e
arranjar um emprego de gente normal, de suas pernas tentarem te fazer sentar na
sarjeta e você permanecer em movimento. E por que continuar? Para ver, após
horas debruçado sobre um exercício, surgir a resposta certa, avistar o pórtico
de chegada, ver seu nome na lista dos aprovados...Percebi que o que me deixava ancioso era o ócio entre uma matéria estudada e outra, que minha carência justificava-se na ausência de endorfina. Para conseguir otimizar meu projeto de estudo, precisava ocupar o resto do tempo que ainda tinha com algo que exige disciplina, concentração, perseverança e proporciona prazeres imensuráveis. O "casamento" estudo/treinos ainda não pode ser avaliado, mas já gera um espectativa boa!
Para o primeiro Ironman tive um suporte de primeira: frequentei endocrinologista, nutricionista, tive dos técnicos maravilhosos, suplementei, me equipei, fiz amigos, parceiros de treino, irmãos de luta! Agora será diferente. Acabaram as regalias: nada de
endocrinologista, nutricionista, infelizmente não poderei contar com meu grande
mestre e amigo Marcio Lazari para a bike e corrida, mas farei bom proveito da
nossa preparação do ano passado. Malto que nada, agora é na rapadura, whey
protein virou clara de ovo( o caldo de cana e o emulsão continuam!!!). Agora é
encarar horas e horas contando azulejos, pedalando no rolo e correndo por
Goiânia afora. Lembro-me de cair na piscina sozinho, cedo ainda, no frio que só campinas consegue proporcionar. Agora desfrutarei de um Sol escaldante que queima Goiânia às 11 da manhã!!! Que saudade!
Não tive dúvida: a primeira coisa que fiz ao confirmar minha volta aos treinos, e principalmente à natação, foi comunicar aos que deixei em Campinas: a turma da raia 6, cada dia mais famosos e fominhas, Letícia “Xuxu”, Matheus Zica, Muru e CIA, e meu grande amigo (e técnico eterno!!!) Samir Barel, que me deu tanta notícia boa que quase esqueci o que tinha pra falar com ele!!!! Obrigado pela força (perto e longe)! E Samir, orgulhoso demais velho!!! A boa e velha frase que fazíamos rodar no grupo continua a valer, mas agora o bicho está sobrecarregado: foca no treino e nos estudos!!! E que venha 2013!